VERGONHA
A cultura familiar no Oeste e Extremo
Oeste de Santa Catarina, como de resto no Estado todo e até na Região Sul, em
sua maioria de descendência Europeia, ainda guarda algum constrangimento quando
um fato não convencional vem à tona. Um revés amoroso, um insucesso
empresarial, uma gravidez inesperada, uma opção sexual, enfim, qualquer
acontecimento julgado estranho aos costumes é motivo de vergonha e é escondido
do conhecimento geral a qualquer custo.
Não é o caso da administração municipal
de São Miguel do Oeste. Contrariando os padrões usuais de comportamento, faz
questão de tornar pública sua incapacidade, incompetência e inoperância para
dirigir o futuro do Município. Se este ostenta a condição de pólo
microrregional, é pelo esforço de seu povo que malgrado a administração,
acredita que São Miguel do Oeste poderá se transformar na potência que, por
enquanto, só existe na propaganda. Desconhecendo a suposta crise e olhando para
o futuro, o povo Migueloestino não para de investir e trabalhar.
VERGONHA I – ÁREAS INDUSTRIAIS
Não se sabe de onde
brotou a infeliz ideia de entregar o acabamento, a organização e o
gerenciamento de áreas industriais a uma instituição privada. Não que a
instituição candidata não tenha capacidade para tanto, mas o fato é que assim
procedendo a administração municipal dá mostras publicas que não é capaz de
gerir seus próprios interesses e os interesses do município.
Não vai longe a crítica pública da atual
administração, acusando a anterior de ter apenas adquirido as áreas industriais
e não ter feito nada. Pior que isso faz a atual, que recebeu as áreas de mão
beijada e sequer foi capaz de roçar o mato que as encobre.
Na administração anterior, a oposição,
atual situação, assessorada pelos órgãos públicos estaduais, fez o possível e o
impossível para impedir a realização de qualquer obra ou procedimento
relacionado às áreas industriais e aos cemitérios, inclusive. Chegou ao absurdo
de interferir para que fosse demonstrada a ausência de um sítio arqueológico na
Linha Emboabas. Pois agora, com área adquirida e paga e com as licenças
aprovadas, a gloriosa administração quer correr da raia. Que belo exemplo e que
prato cheio para os municípios vizinhos, que aos poucos vão cooptando as
empresas aqui sediadas. Mas demonstrando ser adolescente embora no terceiro
mandato, a atual administração ainda sustenta que os culpados são os outros.
VERGONHA II – RETORNO DE ICMS
Em 1997, o
coeficiente de retorno do ICMS de São Miguel do Oeste, era de 0,65506 e
Itapiranga 0,54289. Em 2015, São Miguel do Oeste participou com 0,3859328 e
Itapiranga com 0,401895. Maravilha, que estava longe, está praticamente
empatada com 0,385262. Seara, com menos da metade da população, participa com
0,425902. Que fenômeno é esse? Qual a razão para tais diferenças?
O coeficiente de retorno do ICMS é
calculado levando em conta o Valor Adicionado gerado no município, isto é, o
PIB municipal. Se São Miguel do Oeste perde para Itapiranga, significa que o
PIB de Itapiranga é maior que o de São Miguel do Oeste, e consequentemente a
renda per capita também. Se não há alguém capaz ou tem conhecimento para
explicar esta queda, que vá estudar ou que pergunte a quem tem a obrigação de
saber, mas o fato é que São Miguel do Oeste vem perdendo importância econômica
no contexto do estado de Santa Catarina. E isto não é culpa do Governo Federal
e nem do excesso de impostos. É falta de planejamento, estratégias e ações.
Dizer
que a China é uma potência econômica devido a sua população bilionária, é uma
meia verdade. A verdade é que tanto na China quanto em Itapiranga, são mais
competentes que nós. Fazem seus negócios render mais. Produzem maior valor
agregado, independente de troféus Guarani ou Caigangue. Trabalham mais o
preenchimento das DIEFs, especialmente junto às empresas que atuam no município
e tem sede em outras unidades da Federação. Resumindo, são muito mais
competentes.
As administrações municipais que passaram
por São Miguel do Oeste desde 1997 são as responsáveis pela queda no
coeficiente do município. Faltou competência, planejamento e visão futurista.
Os incentivos dados às empresas não produziram os efeitos anunciados, pois são
concedidos em bases políticas e não técnicas. Não há um acompanhamento dos
resultados invertidos. São jogadas algumas cargas de pedra britada e concedidos
alguns metros cúbicos de fumaça de trator, e o sucesso do empreendimento fica
por conta da cigana que lê a sorte.
Por essas e outras a administração, no
Troféu Guarany, só anuncia números e não fala em índices porque estes denunciam
a incompetência. Mesmo assim, contrariando a cultura local, não sente
constrangimento em torná-la pública. Prefere ficar na superfície, na fumaça do
trator. Odeia o cerne do problema.
VERGONHA III – ESTACIONAMENTO PAGO
Tudo o que a atual
administração fez em prol do estacionamento pago dando azo às pressões de
algumas lideranças, só é comparável com a história do cão que late ao lado do
caminhão, e quando o caminhão para, faz xixi no pneu. A administração municipal
não sabe o que fazer com o estacionamento e nem com o projeto que encomendou a
peso de ouro para endireitar o tráfego urbano. As vias de mão única bateram na
trave e os defensores do estacionamento pago só querem saber das vagas para
seus clientes.
Isto vem se transformando num grande
mico, tanto para a administração quanto para os empresários. Os dos bairros,
espertamente defendem o estacionamento pago para atrair clientes aos
arrabaldes, onde não se paga para estacionar.
A colenda também teve sua honrosa
participação. Numa demonstração de eficácia, produziu o rasgo, remendou, e
acabou remendando também o remendo. Agora que o pepino vai para a mão do povo
trabalhador que precisa vencer a crise e a redução no emprego, os responsáveis
por esta bobagem toda fazem ouvidos moucos e boca chiusa. Mas a solução está
próxima, pois os empresários resolverão todos os problemas da prefeitura.
VERGONHA IV – CONSELHOS E TERCEIRIZAÇÃO
A novidade é a
estruturação de um conselho de nobres para ajudar na administração da
Prefeitura. Bem isso, porque a administração do município, que interessa aos
munícipes e está entregue às moscas, inexiste. Com a terceirização das áreas
industriais, abre-se a possibilidade de terceirizar o gabinete do prefeito.
Quem sabe surja aí um alquimista, a exemplo do Rei Midas, capaz de transformar
aquela... em alguma coisa brilhante.
VERGONHA V – A CULPA É DOS OUTROS
Alguém deve ser
culpado pelo descalabro administrativo da prefeitura. Na área da saúde, é o
Governo Federal que não repassou o dinheiro. Na educação, é a queda na receita,
devido à crise. Nos transportes e obras a culpa é do preço dos combustíveis por
conta da corrupção na Petrobrás. Na Cultura e Esportes, a culpa é do povo que
não aderiu à criação das malfadadas fundações, que nada mais fizeram senão
afundar as atividades culturais e desportivas.
É
o caso de olhar para o interior da administração que investiu um substancial
valor na compra de equipamentos rodoviários que estão trabalhando menos de 600
horas por ano, enquanto o ano de atividade municipal tem 2.080 horas. Os
equipamentos trabalham menos de 30% de sua capacidade operacional! Isso é
competência pura para quem está focado em fumaça de trator e esterco de galinha.
O resultado, tanto na administração das finanças quanto na melhoria do
desempenho econômico do município, não poderia ser outro. Os reflexos desta
política do “boa gente”, do “respeito às pessoas”, está aí para quem quiser
conferir.