SER OU NÃO
SER
É inadmissível que tenhamos
uma geração inteira que não compreende a importância da luta, que não se
reconhece como proletário, que não percebe que é explorado.
O diploma, a Pós Graduação
não nos faz membros da elite. Nós, proletários, não somos diferentes do gari,
da empregada doméstica, do pedreiro. Apenas vivemos uma ilusão social.
A Elite não parcela o carro
em 60 meses, a casa em 20 anos. Não utiliza o FGTS em caso de desemprego, muito
menos precisa de seguro desemprego. Elite não conta moedas no final do mês e
não briga no supermercado pelo litro de óleo a preço de terça maluca. Também
não faz empréstimo consignado.
Não importa se você tem um
cargo de chefia com carteira assinada numa grande empresa ou é um
microempresário que precisa, volta e meia, de empréstimos para manter sua
empresa. A diferença entre você e a auxiliar de serviços gerais que limpa o
banheiro da sua casa, é que ela tem consciência da exploração em que vive.
A luta não é algo de
esquerdopata, de petralha. A luta é um DIREITO legítimo do trabalhador, para
manter a sua dignidade, num sistema opressor como é o sistema neoliberal.
Mas, você que só luta pelo
lugar na pirâmide, não tenha dúvida, você está bem na base da pirâmide, embaixo.
Entenda que se você está
criticando aqueles que estão lutando pela manutenção de um direito, só
demonstra o quanto você está alienado. Afinal de contas o capitão do mato
também era explorado e escravo.
A IDIOTICE
Em grego, idios quer dizer “o mesmo”.
Idiotes, de onde veio “idiota”, é o sujeito que nada enxerga além dele mesmo,
que julga tudo pela sua própria pequenez.
Você, leitor, conhece pessoalmente algum
idiota? Que os idiotas estão por aí, creio estarmos todos de acordo, assim como
Platão, Sertillanges, Nelson Rodrigues. Mas, o que você realmente faz para não
ser um idiota, nem ser feito de idiota?
Talvez você precise de um momento de
reflexão e autoanálise. Comece por pensar em suas atividades anti-idiotice. Alguma
vez você pensou em estudar as estratégias dos canalhas? Seus métodos? Suas
técnicas de manipulação? Suas ocultações? Seu legado no ambiente cultural? Como
você pretende não ser um idiota, nem ser feito de idiota, se você nada sabe
sobre a história e os avanços da canalhice?
A canalhice é a ciência mais avançada do
mundo atual e o seu resultado é a multiplicação de idiotas que jamais se dão
conta de sê-lo. Os pequenos canalhas se aproveitam da idiotice pronta. Os
grandes a fabricam.
O mundo só se tornou viável porque
antigamente as nossas leis, a nossa moral, a nossa conduta era regida pelos
melhores. Agora são os canalhas que estão fazendo a nossa vida, os nossos
costumes, as nossas ideias. Ou são os canalhas ou são os imbecis. Não se sabe o
que é pior porque são milhões deles.
Estou chamando você de idiota? Claro que não.
Estou convidando você a escapar desse estado, ainda que futuro, conhecendo para
isso, entre outras coisas, a influência de canalhas ou imbecis sobre a nossa
vida, os nossos costumes, as nossas ideias, as nossas leis, a nossa moral, a
nossa conduta. Estou convidando você a enxergar além do seu umbigo e em
benefício dele, ampliando a sua imaginação para perceber uma realidade mais
complexa.
É melhor ser persuadido do que ser
manipulado. Ninguém, hoje em dia, pode se dizer um cidadão livre e responsável,
apto a votar e a discutir como gente grande, se não está informado das técnicas
de manipulação da linguagem e da consciência, que certas forças políticas usam
para ludibriá-lo, numa agressão mortal à democracia e à liberdade. Em outras
palavras, você não precisa ser um gênio. Mas convém descobrir qual é o mínimo
que você precisa saber para não ser um idiota.
ORGULHO DO
FRACASSO
A língua, a religião e a alta
cultura são os únicos componentes de uma nação que podem sobreviver quando ela
chega ao término de sua duração histórica. São valores universais, que por
servirem a toda humanidade e não somente ao povo em que se originaram,
justificam que ele seja lembrado e admirado por outros povos.
A economia e as instituições são apenas o
suporte, local e temporário, de que a nação se utiliza para seguir vivendo
enquanto gera os símbolos nos quais sua imagem permanecerá quando ela própria
já não existir.
A afirmação das capacidades nacionais
naqueles três domínios antecede as realizações político-econômicas da França,
Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos e tantos outros.
A experiência dos milênios, entretanto,
pode até tornar-se invisível e inconcebível. Basta que um povo de mentalidade
estreita seja confirmado na sua ilusão materialista por uma filosofia mesquinha
que tudo explique pelas causas econômicas.
O pragmatismo grosso, a superficialidade da
experiência religiosa, o desprezo pelo conhecimento, a redução das atividades
do espírito ao mínimo necessário para a conquista do emprego (inclusive
universitário), a subordinação da inteligência aos interesses partidários, são
as causas estruturais e constantes do fracasso desse povo. Todas as demais
explicações alegadas, a exploração estrangeira, a composição racial, o
latifúndio, a índole dos brasileiros, os impostos ou a sonegação, a corrupção, são
apenas subterfúgios com que uma intelectualidade provinciana e acanalhada foge
a um confronto com a sua própria parcela de culpa, e evita dizer a verdade a um
povo pueril.
Não podendo conquistar o sucesso, instituímos
o ufanismo do fracasso. Depois disso, o que nos resta, senão abdicarmos de
existir como nação e nos conformarmos com a condição de entreposto da ONU?
*Coluna disponível também
em meu blog www.jaimecapra.blogspot.com