quinta-feira, 2 de agosto de 2018

SER OU NÃO SER

SER OU NÃO SER
É inadmissível que tenhamos uma geração inteira que não compreende a importância da luta, que não se reconhece como proletário, que não percebe que é explorado.
O diploma, a Pós Graduação não nos faz membros da elite. Nós, proletários, não somos diferentes do gari, da empregada doméstica, do pedreiro. Apenas vivemos uma ilusão social.
A Elite não parcela o carro em 60 meses, a casa em 20 anos. Não utiliza o FGTS em caso de desemprego, muito menos precisa de seguro desemprego. Elite não conta moedas no final do mês e não briga no supermercado pelo litro de óleo a preço de terça maluca. Também não faz empréstimo consignado.
Não importa se você tem um cargo de chefia com carteira assinada numa grande empresa ou é um microempresário que precisa, volta e meia, de empréstimos para manter sua empresa. A diferença entre você e a auxiliar de serviços gerais que limpa o banheiro da sua casa, é que ela tem consciência da exploração em que vive.
A luta não é algo de esquerdopata, de petralha. A luta é um DIREITO legítimo do trabalhador, para manter a sua dignidade, num sistema opressor como é o sistema neoliberal.
Mas, você que só luta pelo lugar na pirâmide, não tenha dúvida, você está bem na base da pirâmide, embaixo.
Entenda que se você está criticando aqueles que estão lutando pela manutenção de um direito, só demonstra o quanto você está alienado. Afinal de contas o capitão do mato também era explorado e escravo.

A IDIOTICE
Em grego, idios quer dizer “o mesmo”. Idiotes, de onde veio “idiota”, é o sujeito que nada enxerga além dele mesmo, que julga tudo pela sua própria pequenez.
Você, leitor, conhece pessoalmente algum idiota? Que os idiotas estão por aí, creio estarmos todos de acordo, assim como Platão, Sertillanges, Nelson Rodrigues. Mas, o que você realmente faz para não ser um idiota, nem ser feito de idiota?
Talvez você precise de um momento de reflexão e autoanálise. Comece por pensar em suas atividades anti-idiotice. Alguma vez você pensou em estudar as estratégias dos canalhas? Seus métodos? Suas técnicas de manipulação? Suas ocultações? Seu legado no ambiente cultural? Como você pretende não ser um idiota, nem ser feito de idiota, se você nada sabe sobre a história e os avanços da canalhice?
A canalhice é a ciência mais avançada do mundo atual e o seu resultado é a multiplicação de idiotas que jamais se dão conta de sê-lo. Os pequenos canalhas se aproveitam da idiotice pronta. Os grandes a fabricam.
O mundo só se tornou viável porque antigamente as nossas leis, a nossa moral, a nossa conduta era regida pelos melhores. Agora são os canalhas que estão fazendo a nossa vida, os nossos costumes, as nossas ideias. Ou são os canalhas ou são os imbecis. Não se sabe o que é pior porque são milhões deles.  
Estou chamando você de idiota? Claro que não. Estou convidando você a escapar desse estado, ainda que futuro, conhecendo para isso, entre outras coisas, a influência de canalhas ou imbecis sobre a nossa vida, os nossos costumes, as nossas ideias, as nossas leis, a nossa moral, a nossa conduta. Estou convidando você a enxergar além do seu umbigo e em benefício dele, ampliando a sua imaginação para perceber uma realidade mais complexa.
É melhor ser persuadido do que ser manipulado. Ninguém, hoje em dia, pode se dizer um cidadão livre e responsável, apto a votar e a discutir como gente grande, se não está informado das técnicas de manipulação da linguagem e da consciência, que certas forças políticas usam para ludibriá-lo, numa agressão mortal à democracia e à liberdade. Em outras palavras, você não precisa ser um gênio. Mas convém descobrir qual é o mínimo que você precisa saber para não ser um idiota.


ORGULHO DO FRACASSO
A língua, a religião e a alta cultura são os únicos componentes de uma nação que podem sobreviver quando ela chega ao término de sua duração histórica. São valores universais, que por servirem a toda humanidade e não somente ao povo em que se originaram, justificam que ele seja lembrado e admirado por outros povos.
A economia e as instituições são apenas o suporte, local e temporário, de que a nação se utiliza para seguir vivendo enquanto gera os símbolos nos quais sua imagem permanecerá quando ela própria já não existir.
A afirmação das capacidades nacionais naqueles três domínios antecede as realizações político-econômicas da França, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos e tantos outros.
A experiência dos milênios, entretanto, pode até tornar-se invisível e inconcebível. Basta que um povo de mentalidade estreita seja confirmado na sua ilusão materialista por uma filosofia mesquinha que tudo explique pelas causas econômicas.
O pragmatismo grosso, a superficialidade da experiência religiosa, o desprezo pelo conhecimento, a redução das atividades do espírito ao mínimo necessário para a conquista do emprego (inclusive universitário), a subordinação da inteligência aos interesses partidários, são as causas estruturais e constantes do fracasso desse povo. Todas as demais explicações alegadas, a exploração estrangeira, a composição racial, o latifúndio, a índole dos brasileiros, os impostos ou a sonegação, a corrupção, são apenas subterfúgios com que uma intelectualidade provinciana e acanalhada foge a um confronto com a sua própria parcela de culpa, e evita dizer a verdade a um povo pueril.
Não podendo conquistar o sucesso, instituímos o ufanismo do fracasso. Depois disso, o que nos resta, senão abdicarmos de existir como nação e nos conformarmos com a condição de entreposto da ONU?
*Coluna disponível também em meu blog www.jaimecapra.blogspot.com