O comentário a seguir de autoria deste reles escriba, foi
publicado em 27 de julho de 2004 num jornal de São Miguel do Oeste. Em modesto
entender, o conteúdo continua atual nas esferas federal e estadual e muito
adequado na esfera municipal. Confiram.
“Dia desses, um
amigo resolveu fazer o que para ele é um ritual: a feijoada. Comprou tudo:
costelinha defumada, carne seca, bacon, orelha e pezinho de porco (o kit
feijoada), temperos de todas as espécies e os mais diversos acompanhamentos
(couve mineira, laranjas, etc.), e a indispensável cervejinha.
Em casa, na companhia de seu filho,
dispôs os ingredientes animadamente. Arregaçou as mangas de gourmet de fim-de-semana e tragicamente
constatou: FALTOU O FEIJÃO.
Isso me lembrou a economia
brasileira: traçam-se diretrizes, planos mirabolantes, e falta o básico: a
capitalização e a poupança. O fortalecimento do indivíduo. A vontade popular. E
nem se diga (como já escreveu alguém em um jornal de determinada associação)
que as diretrizes econômicas são fruto dos economistas: a vontade é dos
políticos mesmo, que contratam seus assessores econômicos e determinam qual o
rumo que o país deve tomar.
Aliás, culpar o governo já virou
moda entre os brasileiros e esconde a falta de coragem de assumir a própria incompetência.
Voltando ao feijão: no segmento
educação, falta o ingrediente principal. A educação fundamental, a valorização
do magistério e as condições físicas para que os alunos apreendam (vejam: apreendam e não aprendam). Falta o básico. O
ALIMENTO, entendido como a comida, a
substância para o aluno e o alimento intelectual, a valorização, o
reconhecimento e bons salários para os professores.
No segmento saúde, mais do que leis
regulamentando planos, falta saúde BÁSICA, as vagas nos hospitais, o
credenciamento dos hospitais, as UTIs para que as pessoas não morram (vejam, é
o nosso feijão de novo!). Faltam medicamentos que devem ser distribuídos sem
que para isso se necessite de ações judiciais.
Num país de festas glamorosas e
estádios de futebol gigantescos, falta SANEAMENTO BÁSICO. E isso significa:
canalizar o esgoto, levar água potável para as famílias, para que elas possam
comer e beber, tomar banho, sobreviver...
Em se tratando de BÁSICO, a
DIGNIDADE da pessoa humana é o nosso feijão também. Sem dignidade, não há povo,
não há liberdade, não há Nação.
Agora que os holofotes foram
ligados e os discursos de palanque começam a ser produzidos, o povo espera que
os políticos não se esqueçam do FEIJÃO”.
PICKLES
>A
polêmica em torno do projeto milionário, presente do governador à administração
de São Miguel do Oeste, está enchendo o saco de meio mundo. É hora de alguém assumir
a culpa, porque a questão chegou ao impasse pela pretensão de enrolar, incompetência
e falta de humildade. A Câmara Municipal, pelo menos por enquanto, deixou de
ser aquela vaquinha de presépio de outros tempos. Os vereadores querem saber
onde a administração vai gastar o dinheiro. Pelo projeto que lá chegou fica
claro que tem truta nesta sanga.
>Não
é mais possível aceitar que São Miguel do Oeste só consiga financiamento por influência
política, isto é, passando o chapéu. Não é pólo regional? E então, onde estão
os projetos?
>São
Miguel do Oeste envergonha suas estruturas acadêmicas. Só contrata máquinas e
operadores ou operários e roçadeiras, para produzir fumaça e fazer barulho. Coloca
uma escavadeira na vitrine como se fosse um troféu à competência. Não contrata nenhum
técnico ou especialista, para produzir projetos decentes. Limita-se a preencher
formulários pela internet. A UNOESC forma especialistas que não encontram
espaço para mostrar seu conhecimento. A administração municipal não se deu
conta que estamos no século XXI.
>É
lamentável que setores importantes da comunidade, expeditos na instalação de
impostômetros e em mobilização pela derrubada do governo, não se preocupem com
o descaso da administração municipal com o MOVIMENTO ECONÔMICO. Desconhecem que
o coeficiente de retorno de ICMS que já foi 0,86% sobre 25% da arrecadação do
Estado, tenha se reduzido a míseros 0,43% em menos de 10 anos, perdendo para
Itapiranga e Maravilha, com Cedro e Descanso batendo na bunda. Culpar os
vereadores é mais fácil. Afinal, está na moda.
>Esses
setores que se julgam acima da lei e da probidade preferem criticar a Câmara de
Vereadores por se negar a regularizar irregularidades. Consideram que probidade
é só para a operação lava jato. Os outros... Bem, os outros, tudo podem.
>A
jurisconsultoria municipal, após quase 10 anos de gozação deste reles
colunista, no último dia 20 de junho, resolveu tomar uma atitude contra o muro
da vergonha. Uma análise perfunctória (como dizem os jurisconsultos - tanto os
mores quanto os matutos -) na peça vestibular (como dizem os ditos), encontrou
vestígios de lágrimas. Pudera não caros leitores: foi com os olhos marejados
que a ação para que a justiça determine a derrubada do tal muro foi proposta. A
jurisconsultoria municipal está muito mais preocupada com um murinho no Bairro
Salete que atrapalha a vida de quatro moradores, e pertence a um adversário
político. Com o apoio da prestimosa justiça, será derrubado. Afinal, aquele lá,
que ninguém vê, atrapalha muito mais que este do Centro da Cidade. É sabido que
este é um ponto de atração turística e deveria permanecer incólume.