sábado, 29 de setembro de 2018

DEBATES (DES)INTERESSANTES


DEBATES (DES)INTERESSANTES 
Nos debates entre os candidatos a Presidente da República organizados pela imprensa brasileira, grandes propostas necessárias para tirar o País do marasmo em que se encontra foram escassas.
Os candidatos, em sua grande maioria, limitaram-se a apontar assuntos sobre saúde, educação, segurança, economia e outras querelas. Pouco se pode ouvir sobre os grandes temas, cujas ações são necessárias para elevar o Brasil a um patamar compatível com sua grandeza territorial e populacional. Nada foi dito sobe política globalizada, relacionamento com os grandes blocos econômicos, fortalecimento do Mercosul e do BRICS. As ações e o esforço dos governos anteriores para introduzir o Brasil na sala de discussões sobre os grandes temas globais, está sendo jogado no lixo, primeiro por este governo impostor que aí está, e em segundo lugar pelas nossas lideranças políticas e empresariais. Nunca, na história deste País, se viu carestia tão grande de lideranças e autoridades capazes de transmitir confiança e garra ao povo brasileiro.

UNIFORMIZADOS
Todos falam as mesmas coisas. Estão uniformizados, bem ao estilo Bolsonaro. De coturnos, borzeguins, polainas, quepe e gandola, igual a um pelotão de infantes que o Bolsonaro quer ver comandando o Brasil Varonil e seus mais de 200 milhões de habitantes.
Pobre povo que acredita que mosquetes ainda conseguirão colocar o Brasil de pé. Mal sabe que os mosquetes que o candidato desvairado quer impor ao som da marcha militar, são sobra da Segunda Guerra Mundial que acabou em 1945.
O uniforme que todos os candidatos usam nos debates, é a geração de emprego, obsessão de Governo de todos, desde o primeiro dia.
Também não faltam acusações mútuas de quem teria colocado o impostor Temer na presidência da República. Agora que a m. está feita, ninguém é o responsável. É a velha história: “os culpados sempre serão os outros”, ou “o inferno são os outros”, segundo Sartre. “Quem botou o Temer lá, foram vocês. O Temer traiu a Dilma e só chegou à Presidência por causa da oposição, com o seu apoio”, sentenciou um dos candidatos. Aí a prova que “o inferno são os outros”.

SALVAR OS POBRES
A salvação do pobre começa pela escola. Abrir as portas das universidades para os jovens trabalhadores e fortalecer o ensino médio para que mais gente possa chegar à universidade, é o desejo de todos os candidatos.
Todos os programas sociais dos governos anteriores deverão ser mantidos e ampliados. Esta é a principal promessa cata votos. O orçamento federal deverá garantir os programas.
Mas como assim, se fora dos estúdios das emissoras de rádio e televisão e fora das redações dos jornais, todos os candidatos atribuem aos programas sociais a responsabilidade por ter quebrado o País. Agora, em função da campanha eleitoral, os programas sociais são a salvação dos pobres.  Vai acreditar nisso!

INSISTIR
       É preciso insistir. Jair Bolsonaro não é um candidato como outro qualquer. É pior. Ele é uma mentalidade, uma visão de mundo obscurantista. Uma maneira de ver as coisas em preto e branco que salta do mundo das ideias para uma triste realidade manipulada. O seu método de leitura do que acontece na vida é a simplificação. Torna o complexo falsamente simples por meio de uma redução a zero dos fatores que adensam qualquer situação. Se há violência contra os cidadãos, que cada um receba armas para se defender. Se há impunidade, que a justiça seja sumária e sem muitos recursos. Se há bandidos nas ruas, que a polícia possa matá-los sem que as condições de cada morte sejam examinadas. Se há corrupção, que não se perca tempos com processos.
Bolsonaro encarna o pensamento do homem “medíocre”, o homem mediano que não assimila explicações baseadas em causas múltiplas. Se há miséria, a culpa é da preguiça dos miseráveis. Se há crime, a culpa é sempre da má índole. Se há manifestações de rua, é por falta de ordem e de regras rígidas que impeçam de atrapalhar o trânsito. A sua filosofia por excelência é o preconceito em tom de indignação moral, moralista. A sua solução ideal para os conflitos é a repressão, a cadeia, o cassetete. Bolsonaro corporifica o imaginário do macho branco autoritário que odeia o politicamente correto e denuncia uma suposta dominação do mundo pelos homossexuais. É o cara que diz com pretensa convicção: “Não se pode mais ser homem neste país. Vão nos obrigar ser gays”; “Os comunistas estão batendo na porta. Precisamos resistir”.

REPESENTATIVIDADE
Ele representa a ideia de que ficamos menos livres quando não podemos fazer tranquilamente piadas sobre negros, gays e mulheres. Bolsonaro tem a cara de todos aqueles que consideram índios indolentes, dormindo sobre latifúndios improdutivos, e beneficiários do bolsa família preguiçosos que só querem mamar nas tetas do Governo. Bolsonaro é o sujeito desinformado que afirma que na ditadura não havia corrupção, ignorando que os casos se acumulavam encobertos pela censura. É o empresário ambicioso e inescrupuloso que se for para ganhar mais e mais dinheiro abre mão da democracia, elogia a ditadura de Pinochet e ignora direitos. É o produtor que vê exagero em certas denúncias de trabalho escravo. É o homem que acha normal chamar mulher de vagabunda. O eleitor padrão de Bolsonaro sonha com uma sociedade de homens armados nas ruas, sem legislação trabalhista, sem greves, sem sindicatos, sem liberdade de imprensa.
O projeto de Bolsonaro é o retorno a um regime de força por meio de voto.


sexta-feira, 21 de setembro de 2018

TERCEIRO MUNDO

TERCEIRO MUNDO
Um dos recentes escritos desta coluna, traçou um paralelo
entre os tempos idos da ditadura, que os saudosistas insistem em
chamar de “período dos militares”, e a normalidade institucional o
que seria mais aceitável. O caminho para desenvolver o raciocínio,
foi o futebol, esporte mais popular no Brasil, e a vinculação das
conquistas e fracassos ao momento político da época.
Considerando que esta coluna desenvolve um trabalho
intuitivo, isto é, não científico e tampouco de jornalismo
investigativo, baseado na intuição e no sentimento opinativo de
cidadania, não tem a pretensão de provocar nos leitores a
unanimidade.
Sendo assim, como consta naquela matéria, segundo a opinião
deste articulista, a Copa do Mundo de 1970 foi ganha sob a mira de
mosquetes, rufar de tambores e batidas de borzeguins. Embora
tenha torcido veementemente pela vitória, este sentimento me
acompanha há bons quase cinquenta anos. Naquela época (1970) o
Brasil vivia um momento conturbado politicamente, o que viria a
refletir na seguinte copa do mundo, como todos sabem.
DESIGUALDADE NOS IGUAIS
Um articulista de ocasião (desses que só aparecem com seus
escritos, esporadicamente, quando necessário, para preencher um
espaço vago em algum jornal), compareceu há poucas semanas
num semanário local, sustentando que as copas do mundo não
sofrem qualquer influência política. Fez um extenso arrazoado,
estudando os resultados obtidos pela Seleção Brasileira desde 1958
até os dias atuais, e comparando-os com os respectivos momentos
políticos.
Não se deve menosprezar a capacidade de memória do
articulista, pois compareceu ao jornal com riqueza de detalhes, mas
nenhum que fizesse menção ao momento político vivido na época.
Muito menos referiu-se ao ambiente que cercou jogadores e
comissão técnica por ocasião das maiores conquistas, entre as
quais estão as de 1958 e 1962. Omitiu, isto sim a analogia dos
maiores fracassos, os quais, coincidentemente ou não, deram-se
nos períodos de maior recrudescimento da exceção, entre os quais
pode-se citar, sem sombra de dúvidas, 1994 e 1998.

Como dito acima, o articulista citado também não é cientista
social ou político. Trata-se de uma opinião, que embora não se
concorde, deve ser respeitada.
TERCEIRO MUNDISMO
Somos do terceiro mundo. Em tudo! Não são minhas estas
palavras, mas as adoto pois foram dadas ao entendimento de todos
pelo generalíssimo Antônio Hamilton Mourão, o mesmo que quer
ser vice-presidente da República Federativa do Brasil, pelo PRTB,
na chapa de Jair Bolsonaro.
O general estrelado disse que o Brasil herdou a indolência dos
índios e a malandragem dos africanos. O pensamento do vice de
Bolsonaro, remonta ao século XIX, quando se acreditava que a
totalidade de um grupo seria determinada por fatores tais como o
meio, o clima e a raça. Nessa linha de pensamento, o general acha
então que devido a indolência dos índios e a malandragem dos
africanos, o Brasil é aquilo que todos nós sabemos. E ele quer ser o
vice-presidente da República. O general Mourão recuperou uma
velha tradição determinista. Não se contentou em falar velhas
bobagens. Praticou o velho racismo transformado em pseudociência
pelos intelectuais europeus. Pobre Brasil.
TERCEIRO MUNDISMO II
“O mundo só se tornou viável porque antigamente as nossas
leis, a nossa moral, a nossa conduta era regida pelos melhores.
Agora são os canalhas ou os imbecis que estão fazendo a nossa
vida, os nossos costumes, as nossas ideias”.
O nosso desenvolvimento vem sendo ditado pelas práticas da
antiguidade, quando se explorava a natureza para garantir a
sobrevivência. Estamos chegando ao primeiro quarto do século XXI
e continuamos nos orgulhando do fracasso de nossa tecnologia e do
nosso conhecimento, para apregoar a vergonha de sermos o maior
exportador de commodities, coisa de país atrasado.
Os países desenvolvidos exportam conhecimento, tecnologia.
O terceiro mundo exporta mão de obra e produtos primários,
ficando com os resíduos de suínos, aves, vacas, que todos sabem o
que sobra, e resíduos da extração de minério de ferro e outros
minerais.
TERCEIRO MUNDISMO III

Nossos governantes são submissos a interesses internacionais.
Curvam-se diante de uma nota falsa de dólar. Vendem nossas
melhores empresas para que os lucros da exploração do povo
brasileiro vão para as bolsas de valores estrangeiras.
Vergonhoso exemplo é a criação de uma joint venture com
capital da Boeing americana (85%) e Embraer (15%) Esta
empresa, americana, passará a fabricar os aviões da Embraer,
enquanto esta se transformará num hangar mixuruca para guardar
sucatas.
Assim mesmo, o povo brasileiro que dorme sobre a maior
riqueza natural do planeta, contenta-se em mendigar um emprego
de salário mínimo, que já nem mais existe, e diverte-se com o
futebol e o carnaval. Assim mesmo há quem diga que o atraso
brasileiro se dá por conta das raças que formam a nação. E aí está
o vice do Bolsonaro para garantir isso, pois, afinal, temos orgulho
do nosso fracasso.
SOMOS OU NÃO TERCEIROMUNDISTAS?
Muitos dos investimentos que os bancos oferecem são apenas
formas diferentes de emprestar dinheiro para eles.  Quando você
investe em um CDB, LCI ou LCA está literalmente emprestando o
seu dinheiro para o banco. Até quando você deixa o seu dinheiro
parado na conta corrente ou na poupança, está fazendo um
empréstimo. Os bancos são grandes “máquinas” de pedir dinheiro
emprestado, pagando juros baixos, para emprestar esse mesmo
dinheiro para outras pessoas e empresas cobrando juros altos.
Lembre-se que os bancos não deixam seu dinheiro parado em
um cofre de segurança máxima, esperando você precisar dele.
Isso é uma fantasia que muitos ainda carregam.
*Coluna disponível também em meu blog www.jaimecapra.blogspot.com/

A ORIGEM DA BURRICE

A ORIGEM DA BURRICE NACIONAL
Repetidamente um fenômeno tem chamado a atenção de
professores estrangeiros que vêm lecionar no Brasil: por que
nossas crianças estão entre as mais inteligentes do mundo e nossos
universitários entre os mais burros? Como é possível que um ser
humano dotado se transforme, decorridos quinze anos, incapaz de
montar uma frase com sujeito e verbo? É fácil lançar a culpa no
governo e armar em torno do assunto mais um falatório destinado
a terminar, como todos, em uma nova extorsão de verbas oficiais.
Difícil é admitir que um problema tão geral deve ter causas
também gerais, isto é, que não pertence àquela classe de
obstáculos que podem ser removidos pela ação oficial, mas àquela
outra que só nós mesmos, o povo, a “sociedade civil”, estamos à
altura de enfrentar, mediante a convergência lenta e teimosa de
milhões de ações anônimas, longe dos olhos da nossa vã sociologia.
A condição mais óbvia para o desenvolvimento da inteligência
é a organização do saber. Nossas energias intelectuais mobilizam-
se mais facilmente em torno de poucos núcleos de interesse do que
numa dispersão de focos de atenção espalhados no ar como
mosquitos. Discernir o importante do irrelevante é o ato inicial da
inteligência, sem o qual o raciocínio nada pode senão patinar em
falso em cima de equívocos. A cultura na sociedade é resultado de
sucessivas filtragens da experiência acumulada a ponto de ser o
homem um quadro de interesse essencial. Nesse quadro, não
restaria ao indivíduo outra alternativa senão operar neste
“mostruário”, conforme seus interesses pessoais.
Quando se diz que a cultura está impregnada na sociedade,
significa que a seleção dos pontos importantes transparece na
organização das cidades, nos monumentos públicos, no estilo
arquitetônico, nos museus, nos cartazes dos teatros, na imprensa,
nos debates entre as pessoas letradas, nos giros da linguagem
corrente, nas estantes das livrarias e nos programas de ensino.
Quem desembarca num país qualquer da Europa já obtém, por
um primeiro exame desse mostruário, uma visão clara dos pontos
de interesse que constituem um fundo de referência cultural.
Só de andar pelas ruas, o cidadão pode enxergar os marcos
que o situam num lugar preciso do mapa histórico, desde o qual ele
pode medir quanto tempo as coisas duraram e qual a sua
importância para a vida humana.
Se olha para os cartazes dos teatros, nota que certas peças
estão sendo reencenadas este ano porque são reencenadas todos
os anos, ao passo que outras, que fizeram algum sucesso no ano

passado, desapareceram do repertório. Basta isto para que adquira
um senso da diferença entre o que importa e o que não importa.
Ao entrar em qualquer livraria, o contraste entre as estantes
onde estão sempre expostos os mesmos títulos essenciais e
aquelas onde os lançamentos mais recentes se revezam mostra-lhe
a diferença entre o patrimônio escrito de valor permanente e o
comércio livreiro de alta lucratividade.
Na escola, ele sabe que vai aprender coisas que seus pais,
avós e bisavós também aprenderam, e outras que são novidade e
que talvez terão desaparecido do currículo na geração seguinte.
Tudo, no ambiente plástico e verbal contribui para que o
indivíduo adquira um senso de hierarquia e de orientação no tempo
histórico, na cultura, na humanidade.
No Brasil, isso não existe. O ambiente visual urbano é caótico
e disforme, a divulgação cultural parece calculada para tornar o
essencial indiscernível do irrelevante. O que surgiu ontem para
desaparecer amanhã assume o peso das realidades milenares, os
programas educacionais oferecem como verdade definitiva opiniões
que vieram com a moda e desaparecerão com ela. Tudo é uma
agitação superficial infinitamente confusa onde o efêmero parece
eterno e o irrelevante ocupa o centro do mundo. Nenhum ser
humano, mesmo genial, pode atravessar essa selva selvagem e sair
intelectualmente ileso do outro lado.
Largado no meio de um caos de valores e contravalores
indiscerníveis, ele se perde numa densa malha de dúvidas ociosas e
equívocos elementares, forçado a reinventar a roda e a redescobrir
a pólvora.
Nesse ambiente, a difusão das novidades intelectuais, em vez
de fomentar discussões inteligentes, só pode atuar como força
dispersante. Não há nada mais consternador do que uma
inteligência sem cultura, despreparada, nua e selvagem que se
nutre do último show e arrota uma sucessão de perguntas cretinas
onde a sofisticação pedante do raciocínio se apoia na mais
grosseira ignorância dos fundamentos do assunto. Acrescente-se a
esses ingredientes a arrogância juvenil estimulada pelas lisonjas
demagógicas da mídia, e tem-se a fórmula média do estudante
universitário brasileiro. É impossível discutir com ele. Quando a
mente assim deformada entra a produzir objeções numa discussão,
seu interlocutor culto e bem-intencionado, se não é muito enérgico
no emprego da vara de marmelo, leva desvantagem
necessariamente: quem pode vencer um debatedor tenaz que,
confiante na aparente correção formal do seu raciocínio, está

protegido pela própria ignorância contra a percepção da falsidade
das premissas? Com um sujeito assim não cabe argumentar. Cabe
apenas transmitir-lhe as informações faltantes — educá-lo, em
suma. Mas, precisamente, ele não vai deixar você educá-lo, porque
a ideologia de rebelde posudo que lhe incutiram desde pequeno o
faz pensar que é mais bonito humilhar um professor do que
aprender com ele. Eis como o menino inteligente se transforma
num debatedor idiota, vacinado para todo o sempre contra
qualquer conhecimento do assunto em debate.
*Coluna disponível também em meu blog www.jaimecapra.blogspot.com/

O IMBECIL JUVENIL

O IMBECIL JUVENIL
Não acredito na mentira que celebra a juventude como uma
época de rebeldia, de independência, de amor à liberdade. Nunca
dei crédito a esta bobagem, nem mesmo quando jovem, pois na
época pouco se falava nisso. Ao contrário, desde cedo me
impressionaram, na conduta de meus companheiros de geração, o
espírito de rebanho, o temor do isolamento, a subserviência à voz
corrente, a ânsia de sentir-se iguais e aceitos pela maioria cínica e
autoritária, a disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em troca
de uma vaguinha no grupo dos bacanas.
O jovem, é verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e
professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e
jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os
pais é um teatrinho no qual um dos contendores luta para vencer e
o outro para ajudá-lo a vencer.
Muito diferente é a situação do jovem ante os da sua geração,
que não têm as complacências do paternalismo. Longe de protegê-
lo, essa massa barulhenta recebe o novato com desprezo e
hostilidade que lhe mostram a necessidade de obedecer. É o reino
dos mais fortes que se firma sobre a fragilidade do recém-chegado,
antes de aceitá-lo como membro. Para não ser devolvido aos
braços da mãe, ele tem de ser aprovado num exame que lhe exige
a supressão de sua personalidade.
É verdade que ele se submete a isso com prazer, com ânsia de
apaixonado que tudo fará em troca de um sorriso condescendente.
A massa de companheiros de geração representa o mundo grande
no qual o adolescente, emergindo do pequeno mundo doméstico,
pede ingresso. E o ingresso custa caro. O candidato deve, desde
logo, aprender todo um vocabulário, um código de senhas e
símbolos. A mínima falha expõe ao ridículo, e a regra do jogo é
implícita, devendo ser adivinhada antes de conhecida. O modo de
aprendizado é sempre a imitação sem questionamentos. O ingresso
no mundo juvenil dispara a toda velocidade o motor de todos os
desvarios humanos.
Não é de espantar que o rito de ingresso no grupo, custando
alto investimento psicológico, termine por levar o jovem à completa
exasperação.
Para onde, então, se voltará o rancor? A família surge como o
bode expiatório de todos os fracassos do jovem no seu rito de
passagem.
Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor
ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama.
Este o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia dos
adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve
sempre na vanguarda de todos os erros e perversidades do século:
nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudorreligiosas, consumo
de drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na
direção do pior. Um mundo que confia seu futuro ao discernimento
dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro
algum.

GERAÇÃO PERDIDA
Os jovens eleitores do passado, tanto quanto os atuais,
percebem que nada sabem do que é bom ou mau para seu país,
estado ou município e muito menos das ideologias em disputa nas
eleições. Por isso abstém-se de votar e a partir daí começam a
estudar o País onde vivem. Ao envelhecer, podem ajudar muitas
gerações a votar com mais seriedade e conhecimento de causa,
sem deixar-se iludir pelas falsas alternativas da propaganda
imediata. Saber primeiro para julgar depois é o dever número um
do homem responsável. Dever que o voto obrigatório, sob a escusa
de ensinar, força a desaprender. As coisas podem não ser o que
parecem.
Hoje, raramente se encontra um jovem que não queira
“transformar o mundo”, e que não transfira aos gregos o dever de
perguntar o que é o mundo.
No Brasil, cultura e inteligência são coisas para depois da
aposentadoria. Quando todas as decisões estiverem tomadas,
quando a massa de seus efeitos tiver se adensado numa torrente
irreversível de declínio, aí o cidadão pensará em adquirir
conhecimento que, a essa altura, só poderá servir para lhe informar
o que deveria ter feito e não fez. Então, o conhecimento perderá
toda a sua força, reduzindo-se a um penduricalho, a um adorno
inofensivo de uma velhice calhorda.
Eis onde termina a vida daquele que, na juventude, em vez de
esperar até compreender, cedeu à tentação lisonjeira do primeiro
convite e se tornou um “participante”, um “transformador do
mundo”.
O Brasil é o país do gênio prematuro, degradado em bobalhão
senil logo na primeira curva da maturidade. Em todas essas
pessoas que falam em nome do futuro, o sentimento dominante é a
saudade de si mesmas. Não falta a esses indivíduos a consciência
de que suas vidas falharam. Mas atribuem a culpa aos outros, ao
governo militar que impediu sua geração de “chegar ao poder”. No
entanto, a desculpa é falsa, porque, mal ou bem, eles estão no
poder. Eram jovens militantes, hoje são deputados, são
catedráticos, são escritores de sucesso, são formadores de opinião.
Por que, então, lambem com tanta nostalgia e ressentimento as
feridas da sua juventude perdida? É porque foi perdida num sentido
muito mais profundo e irremediável que o da mera derrota política.
A agora é tarde para voltar atrás.

ESTAMOS MAL

ESTAMOS MAL.
Um país como o Brasil, de dimensões continentais, com
população que ultrapassa os 200 milhões de habitantes, natureza
exuberante que oferece tudo o que se possa imaginar, costa
marítima invejável, petróleo, água, oxigênio, tudo o que se
necessita para a sobrevivência, não pode ficar a mercê de um
bando de salafrários.
O risco de o povo ignorante funcional colocar um Presidente da
República da mesma estirpe nessas próximas eleições, é imenso. E
o cenário está sendo preparado com cuidado. É só ficar atento na
dança dos candidatos. Lamentavelmente, um pior que o outro. Os
que estiveram no comando do País até hoje, já demonstraram que
não merecem permanecer. Os que se apresentam como o novo,
têm às suas costas os mesmos manipuladores de sempre, fazendo
da Câmara dos Deputados, Senado e Palácios, verdadeiros circos
de marionetes.

SEM ESCRÚPULOS
Ninguém mais tem escrúpulos. Já não se sabe qual o
significado desta palavra. O debate entre os postulantes à Câmara
Federal organizado pela Rádio Peperi de São Miguel do Oeste,
escancarou a falta de vergonha na cara. Teve candidato avaliando
seu pífio desempenho com a justificativa que as coisas lá em
Brasília não são fáceis. Nas entrelinhas deixou claro que não é
possível fazer as coisas de acordo com o interesse da população. É
preciso atender aos interesses de grupos, principalmente os mais
fortes. Assim não dá.

 MIDIA
A mídia da direita não sabe mais que Santo chamar para
emplacar seu candidato que nem ela mesma sabe quem é. Para
tirar um quadradão louco e fora da casinha do páreo, serve
qualquer um.
A experiência dos governos do PT, ditos de esquerda mas
comandados pela direita do ex-PMDB, pode se repetir. É a tal coisa: “já que se está no inferno, não custa dar um abraço no diabo”. O atual MDB, tido como o maior partido do Brasil, está indo pro brejo. O salvador de finanças Henrique Meirelles não consegue os votos nem dos seus filiados. O Zumbi (morto vivo) maior, personagem de Incidente em Antares do saudoso Erico Veríssimo, Michel Temer, está recluso “em seus aposentos”, de cuecas e robe, sem saber o que fazer, dizer, ou a quem apoiar.
Não se pode classificar o funesto presidente (letra minúscula
mesmo!) da República (letra maiúscula porque nem merecemos
mais a de Bananas) como impostor. Ele não merece tanto.
Poderíamos chama-lo de Nero, o imperador Romano que ateou
fogo em Roma. No caso, ele ateou fogo no Brasil inteiro. Mas, Nero, seria uma honraria desmedida.
Talvez lhe caiba melhor Calígula, o imperador Romano que
reinou de 37 a 41 d.C. Seu maior feito foi ter nomeado Incitatus,
seu cavalo preferido, Senador.
Incitatus, o Cavalo, tinha cerca de dezoito criados pessoais,
era enfeitado com um colar de pedras preciosas e dormia no meio
de mantas de cor púrpura. Foi-lhe também dedicada uma estátua
em tamanho real de mármore com um pedestal em marfim.
No caso, o impetuoso Michel Temer só nomeou burros e
asnos. Nenhum cavalo! Como não há no vernáculo pátrio um termo
que o classifique, poderíamos chama-lo de inútil. Até a mídia servil
o abandonou. O sujeito não é manchete nem em Sanchas Parda.

O POVO
O povo nem está aí para as eleições. Os mais abastados
continuam comprando caminhonetonas. Os empresários retiraram
os impostômetros, mas adoram a ideia dos sonegômetros. Os
bancos, apresentam balanços com lucros bilionários, e cobram
pelas cópias fotostáticas dos documentos que os pobres precisam
apresentar para retirar uns trocados do FGTS, INSS e outras
ninharias. Os trabalhadores estão sendo terceirizados como se
fossem carrinhos porta-malas de rodoviárias. Os sem trabalho
fazem fila em frente aos comitês dos candidatos, tentando obter
alguns trocados desviados dos financiamentos de campanha com
seu próprio dinheiro. Os candidatos, evidentemente, dizem que não
tem dinheiro, mas por baixo do poncho, via aspones eleitorais,
deixam resvalar algumas notas de cinquenta reais.

O GOVERNO
Véspera de eleições sempre foi um período de vacas gordas
pela grande movimentação financeira que traz consigo. Sob a égide
da legislação eleitoral anterior, a moeda circulava livremente por
cima e também por baixo do poncho. Agora, com a nova lei de
financiamento público das campanhas, a coisa ficou melhor. Vem
dinheiro dos sagrados impostos para engrossar os já polpudos
orçamentos de campanha. Nesta modalidade, o dinheiro dos
impostos circula por cima do poncho, aquele do orçamento próprio,
adquirido à custa dos 10% das emendas parlamentares, circula por
baixo do poncho, para pagar combustível, salários dos aspones, e
os já famosos picadinhos e acertos de grupos.
No que diz respeito às obras públicas em vésperas de
campanhas, já não servem para as campanhas. O povo já sabe
como funciona. Deixam-se os buracos nas estradas para serem
tapados na véspera da votação. As cargas de pedra britada, ficam
para daqui a dois anos, nas eleições municipais, onde impera a
fumaça de trator e o esterco de galinha.
A saúde e a educação ficam à míngua por conta do
contingenciamento imposto por este e outros governos inúteis.

SABER VOTAR

BRASILEIRO SABE VOTAR?
Certa vez, Pelé afirmou que "brasileiro não sabe votar". A
grande mídia e o TSE parecem estar falando o mesmo, agora. Mostram a corrupção do sistema de que fazem parte e culpam o povo. Pelé ficou famoso por sua genialidade com a bola nos pés. E quase tão famoso pela infelicidade de suas declarações. Talvez, a mais famosa delas tenha sido a frase: "brasileiro não sabe votar". Foi dita nos anos 70, ao ser questionado sobre a decisão dos governos militares de suspender eleições diretas para cargos do Executivo.
Quase 40 anos depois, a mídia e a Justiça Eleitoral parecem
estar falando o mesmo. É que nos últimos meses, não faltam lições de moral dadas por locutores, comentaristas, âncoras de jornal, especialistas disso e daquilo, e reles escribas como este, em matérias, artigos e anúncios. Todas praticamente acusando os eleitores e eleitoras de esquecerem em quem votaram. De não acompanharem a atuação daqueles que elegeram. Enfim, parece culpá-los pelo comportamento dos mensaleiros, sanguessugas e
outros mafiosos engravatados que chegaram ao Congresso
Nacional.
Numa propaganda do TSE, um professor de meia idade dá
uma bronca em idosos numa sala-de-aula. Acusa-os de esquecer em quem votaram, de não acompanhar a atuação dos eleitos e outras querelas mais. Comentaristas e apresentadores da imprensa escrita e falada fazem o mesmo com quem os ouve ou assiste. O Fantástico até criou um quadro chamado E eu com isso?. Nele, uma atriz interpreta uma mulher do povo, que não quer saber nada
de política. Enquanto lava a roupa, faz compras, se desloca em trens lotados para o trabalho, ela reafirma o tempo todo que política não leva a nada. Ao mesmo tempo, o quadro vai tentando explicar o funcionamento do Congresso, governos, partidos, etc. A atriz se sai muito bem interpretando alguém que mal tem tempo de dormir, quanto mais acompanhar mandatos e leis. Mas, não deixa de haver preconceito aí. Afinal, não são apenas os pobres que dão pouca atenção às atividades de vereadores, deputados, senadores, governantes em geral.
O cientista político Alberto Carlos Almeida, da FGV, demonstra isso em seu livro "Reforma Política: Lições da História Recente;. A publicação revela que 71% dos eleitores esqueceram em quem votaram para deputado federal quatro anos antes. É verdade que a chamada "amnésia eleitoral" é maior entre os de menor
escolaridade. Mas, 53% das pessoas com nível superior também não se lembram de seu voto.
Interessante que o próprio quadro do Fantástico; dá
elementos para entender por que o eleitorado esquece ou despreza a política dos gabinetes. A atriz que encarna a mulher do povo conversa sobre a necessidade de fiscalizar os parlamentares e governantes com pessoas da população. Estas, dizem coisas óbvias, como: Eu lá tenho tempo de ir atrás de vereador; ou Tenho coisa melhor pra fazer;. Ora, a primeira observação diz respeito a pessoas em busca de sua sobrevivência, o que lhes toma grande parte do tempo e das energias. A segunda, se refere exatamente ao que a grande mídia faz com a maioria da população, não apenas com os mais pobres. Oferece-lhes entretenimento fácil e barato e informação simplificada e desestimulante. De um lado,
canais como a TV Senado ou TV Câmara só chegam a quem paga tevê a cabo. De outro lado, quem é que vai trocar filmes, novelas, desenhos animados e outras atrações por discursos longos e chatos? No máximo, assistem aos "jornais das oito", com seu formato cada vez mais espetaculoso e menos explicativo. Além disso tudo, ainda tem o fato de que essa mesma mídia é a grande advogada do individualismo. É a primeira a desestimular a
organização da população. Também não vacila na hora de chamar partidos e organizações populares de atrasados, radicais, extremistas. Quer mesmo é que a fiscalização se limite ao voto individual, escondido na cabine de votação, uma vez a cada 2 anos.
Manifestações em frente aos parlamentos e palácios, nem pensar. Aí, é baderna. Partidos de esquerda que organizam o povo? Cláusula de barreira neles. Enquanto isso, o grande partido dos monopólios das imagens e do som continua fazendo e desfazendo, sem eleições e mandato para isso. Sem falar nos 30% de parlamentares que representam seus interesses no Congresso Nacional.
Ora, toda essa estória de fique de olho em seu deputado não passa de um jeito de colocar a culpa no povo e deixar em paz o próprio sistema. Este sim, cria os quase sempre esquecidos corruptos públicos e os nunca lembrados corruptores privados. E quando surgirem novos escândalos, as palavras de Pelé serão novamente lembradas, ainda que não ditas. Por outro lado, toda essa conversa moralista serve para esconder que parlamentares e governantes não traem a vontade popular apenas roubando. Na verdade, a maior parte nem é corrupta. Somente propõe e aceita leis que pioram a vida da grande maioria da população.
Adaptando uma frase irônica que Berthold Brecht disse uma
vez: Não seria mais fácil o governo e a mídia derrubarem o povo e elegerem um outro?

A QUESTÃO SOCIAL
Há muito se tenta compreender como um país de extremas
desigualdades estrutura-se sem uma verdadeira tensão social. Desde a época em que a legislação social foi implementada no Brasil, procura-se dizer que no Brasil não há uma questão social, pois as classes sociais convivem harmonicamente. 
Muitos usaram esta visão para dizer que foi um equívoco
estabelecer direitos trabalhistas, pois isto implicou numa forma de incentivar um conflito onde não existia. Essa conversa foi uma visão distorcida da realidade, comprometida com o resultado de manter uma exploração capitalista sem o mínimo de responsabilidade social.
Havia um movimento reivindicatório por parte dos trabalhadores, mas, deve-se reconhecer que não era tão organizado a ponto de gerar uma ameaça ao sistema político e econômico. Isto não pode servir de argumento para negar a importância da legislação social.
Equivocam-se os que dizem que a legislação social incentivou um conflito onde não existia.