sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

ELES NÃO FIZERAM NADA


ELES NÃO FIZERAM NADA
"O ex-deputado federal Márcio Moreira Alves, pivô da decretação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5) em 13 de dezembro de 1968, morreu em abril de 2009 aos 72 anos, depois de cinco meses internado no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, devido a um acidente vascular cerebral."
       Iniciou sua carreira profissional como repórter no Correio da Manhã, no Rio de Janeiro. Adversário do governo João Goulart, inicialmente apoiou o golpe militar, tornando-se seu opositor a partir da edição do primeiro Ato Institucional em abril. Foi eleito deputado federal em 1966, pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), depois de denunciar a ocorrência de torturas contra oposicionistas.
       Em setembro de 1968, fez um discurso na Câmara protestando contra a invasão da Universidade de Brasília pela Polícia Militar. O tom radical de seu discurso e a não aceitação da Câmara do pedido de cassação de seu mandato, encaminhado pelo Supremo Tribunal Federal, teriam servido como estopim para a edição do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), em dezembro daquele ano.
       Cassado pelo AI-5, deixou clandestinamente o país ainda em dezembro de 1968, e só voltou em 1979, com a anistia. Com o fim do bipartidarismo, em novembro daquele ano, e a posterior reformulação partidária, filiou-se ao PMDB e, nessa legenda, concorreu a uma cadeira na Câmara dos Deputados.
         Entre 1982 e 1984, assessorou Bresser Pereira na presidência do
Banco do Estado de São Paulo, e depois na Secretaria de Governo de 
São Paulo. Ao longo de sua vida profissional, também se dedicou a 
escrever livros, como “Torturas e torturados, manual do cronista 
aprendiz”, coletânea de artigos de seus trinta anos de colunista, “A 
velha classe”, “Beabá do MEC-Usaid”, e “A grain of mustard – the 
awakening of Brazilian revolution” (Um grão de mostarda - o 
despertar da revolução brasileira”). 
 
NÃO FORAM ELES
         Marcio Moreira Alves, o homem cuja ação provocou o AI-5 
decretado em 13 de dezembro de 1968, o mais infame da infame 
ditadura implantada no Brasil em 1964, era jornalista. Tornou-se 
político. Cometeu erros que os ditadores não podiam perdoar. O 
primeiro deles foi provar no calor dos acontecimentos que a ditadura
começou em 1º. De abri de 1964 mesmo com todas as violências de 
um regime de força: perseguições, prisões, arbitrariedades, tortura 
e mortes.
         Em Torturas e Torturados, livro lançado e proibido em 1967 por
ofender a “dignidade das forças armadas, não fazer referência à 
oficina em que foi impresso, e estar “eivado de inverdades”, Marcio, 
em reportagens publicadas no Correio da Manhã, desmascarou o novo regime. Desafiou: “Provem onde estão as mentiras”! “Os que acobertam um punhado de torturadores limitam-se a dizer que as torturas são mentiras”.
         Sustentou que houve muita tortura em abril de 1964. Indicou 
que isso serviu para incentivar a tortura também a presos comuns e a
gerar o sentimento de impunidade nos torturadores. Chocou ao 
escrever: “A revelação de que membros do Exército nacional, que se 
gabavam de ser o “povo fardado” e da Marinha de Guerra, com sua 
tradição de cavalheirismo aristocrático, estavam torturando e 
promovendo a tortura de prisioneiros, quebrou um preconceito, 
matou uma ilusão brasileira e acendeu uma geral indignação. 

NÓS NÃO: FOMOS E SEREMOS HONESTOS!
Márcio Moreira Alves tinha o péssimo hábito de denunciar as contradições do regime, nas páginas do correio da Manhã, antes que a censura tudo devorasse. Em artigo de 28 de novembro de 1964 mostrou como a UDN entregara-se ao autoritarismo. No mesmo texto revelou uma prática que seria considerada nova 50 anos depois: a compra de apoio de parlamentares. Vale a pena ler o seu exto.
       “O comprador de votos do governo fora, na véspera, o ministro Cordeiro de Farias, senhor dos empregos e das verbas da Sudene, da comissão do Vale do São Francisco e da SP VEA. Ontem foi o próprio presidente Castelo Branco quem se encarregou de mercadejar apoios, chamando mais de 20 deputados ao Palácio do Planalto. Acorreram entre outros, a honrar o bezerro de ouro, os senhores Osvaldo de Abreu (que passara três meses ganhando em dólares na representação do Brasil junto à ONU, Gayoso e Almendra, que na reunião do PSD fora dos mais vociferantes contra a intervenção, monsenhor Arruda Câmara, Euclides Vilcar (implicado no      DNOCS do Ceará, Abraão Sabá (da refinaria de Manaus) e Pedro Zimmermann. Os deputados trabalhistas eram “repontados” por Teódulo de Albuquerque, baiano que seguia a liderança de Manoel Novaes da CODEVASF (Vale do São Francisco). Familiar, não?+



ESCOLA SEM PARTIDO TUPINIQUIM
"No último dia 23 de novembro, o Supremo Tribunal Federal divulgou um levantamento inédito a respeito da posição do judiciário sobre a liberdade de cátedra em seis países, mais a União Europeia. Realizado pela Coordenadoria de Análise e Jurisprudência do órgão, o estudo visa enriquecer os debates a respeito da proposta do Escola sem Partido."
A Segunda Turma do Tribunal, em decisão majoritária, acolheu o pedido da requerente e decidiu que a Lei do Estado de Baden-Württemberg não possuía base estatutária suficientemente definida para a proibição do uso de lenço de cabeça por professores em escolas e durante as aulas. Observou-se que não consta dos autos nenhuma evidência tangível de que a aparição da requerente com adereço de cunho religioso criou qualquer perigo concreto para a paz na escola. O medo de que os conflitos possam surgir com pais que se oponham a que seus filhos sejam ensinados por uma profissional usando lenço de cabeça não pode ser justificado pela experiência anterior da requerente em sala de aula, tampouco é fundamento para proibir a expressão religiosa.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

CIRCO DOS HORRORES


CIRCO DOS HORRORES
Depois de quatro anos fazendo campanha e vendendo a ideia de que mudaria tudo, Bolsonaro cede às barganhas fisiológicas dos partidos e entrega nacos do Estado a interesses corporativos.
Foi eleito e já indicou metade dos seus ministros. Sempre que perguntado se tinha nomes em mente, o então candidato era vago. Fazia questão de assegurar que seriam nomes “exclusivamente técnicos”. Nada de “negociatas políticas” ou “escolhas ideológicas”. Ao ler o nome dos indicados, percebe-se o contrário.
Um dos poucos nomes garantidos durante as eleições foi Paulo Guedes. O guru econômico de Bolsonaro tem atuado como um primeiro-ministro do Brasil. Sondou Sérgio Moro antes mesmo do segundo turno. Depois das eleições, atacou parlamentares e está montando sua equipe econômica como se tivesse sido ele próprio o candidato mais votado.
Guedes é fundador do banco BTG Pactual. Escolheu para presidir o BNDES Joaquim Levy do Bradesco e ministro do desastroso ajuste de Dilma em 2015. Para o Banco Central indicou Roberto Campos Neto, do Santander.
Para a Petrobras, nomeou seu amigo da Escola de Chicago, Roberto Castello Branco, que defendeu publicamente neste ano privatizar a empresa. Dois privatistas também foram nomeados para a presidência da Caixa e do Banco do Brasil.
Seguindo o discurso de Bolsonaro, parte da mídia trata esses nomes como “economistas”, técnicos. Nada mais falso. Os porta-vozes dos principais órgãos públicos da nossa economia estão ligados ao mercado financeiro, numa verdadeira “porta giratória” com visível conflito de interesses. Com uma sucessão de lucros recordes, os bancos já vem traçando os rumos da economia nas últimas décadas. O controle que terão sobre a política econômica no próximo governo, é inédito.
De noite, montam sua plataforma de governo jantando com grandes acionistas e nomes ligados ao capital estrangeiro. De dia, utilizam a crise econômica para justificar as privatizações e a venda da soberania nacional a preço de banana.
Na política, Bolsonaro nomeou Onix Lorenzoni como ministro da Casa Civil. O deputado é filiado ao DEM há 21 anos, quando ainda chamava-se PFL e tinha como grande comandante o inesquecível Antônio Carlos Magalhães. Toninho Malvadeza foi um dos principais parlamentares a levantar a bandeira das dez medidas contra a corrupção, articuladas pelo Ministério Público Federal. Uma das medidas é a criminalização direta de quem receba recursos eleitorais via caixa 2. Ora, vejam só! Onix Lorenzoni admitiu ter recebido 100 mil reais da JBS, não declarados. Declarou-se, porém, arrependido e foi perdoado pelo Deus Sergio Moro. A JBS – Friboi, também deverá ser perdoada, como se verá logo abaixo.
Outra indicação, também do DEM, é a nova ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Líder da bancada ruralista, foi uma das principais articuladoras do avanço do projeto que quer flexibilizar o uso dos agrotóxicos no Brasil. Por conta disso, ganhou o apelido de “Musa do Veneno”. Durante o período na gestão estadual do Mato Grosso do Sul, deu incentivos fiscais à JBS - Friboi, fechou parcerias pessoalmente com Joesley Batista e recebeu doações eleitorais da empresa no mesmo ano. Não é exatamente um nome técnico, como diz Bolsonaro.
Nada mais absurdo que a nomeação do até então desconhecido dos brasileiros Ernesto Araújo como chanceler. Diplomata que atua nos Estados Unidos, fã incondicional de Donald Trump, disse que o presidente norte-americano é a salvação do Ocidente. Em blog pessoal, fez campanha aberta para Bolsonaro e atacou partidos de esquerda. Araújo vive em uma verdadeira realidade paralela, onde o "marxismo cultural" pilota o movimento "globalista", a China continua sendo um país Maoísta e o aquecimento global é um dogma esquerdista. Seus impropérios e disparates sucessivos fazem ruborizar um defunto, só de lembrar que será essa a voz do Brasil para o mundo.
Vamos em frente. O novo ministro da Saúde será Luiz Henrique Mandetta, terceiro nome do DEM. Está sendo investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa 2 na implementação de um sistema de prontuário eletrônico quando era secretário municipal de saúde. O médico já presidiu a Unimed e desde o início foi contra o Programa Mais Médicos. Difícil acreditar em alguém com ligação direta ao sistema privado de saúde, terá algum compromisso com o SUS.
As indicações da última semana foram fechadas com chave de ouro com o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez na Educação. É uma “tragédia anunciada”. O defensor feroz da dita escola "sem partido" é visceralmente antiesquerdista, exalta o golpe militar de 1964 e rasga elogios à monarquia. Um fundamentalista que parece desconhecer a Revolução Francesa. Não é a Marx que questiona, mas a Voltaire e o Iluminismo. Segundo os filósofos das principais universidades brasileiras, ele é pouco conhecido no meio. Sua obra é modesta e tem pouca experiência na área. Trevas à vista.
Um superministro banqueiro e com a agenda mais antipopular do período democrático. Um político que assumiu ser corrupto na Casa Civil. Uma ruralista que quer liberar geral o veneno na agricultura e na comida. Um fã de Donald Trump em cruzada contra o marxismo e o ambientalismo, na diplomacia. Um deputado investigado e contrário ao Mais Médicos na Saúde. Um inquisidor da Idade Média na Educação. Esse é parte do time de quem prometeu "varrer" o que havia de pior na política brasileira e montar uma equipe "técnica", não "ideológica". Já vi a história de “varrer” com o Jânio Quadros, que deu no que deu. Para tanto, o ministério de Bolsonaro é um verdadeiro “show de horrores”.