segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

CIRCO DOS HORRORES


CIRCO DOS HORRORES
Depois de quatro anos fazendo campanha e vendendo a ideia de que mudaria tudo, Bolsonaro cede às barganhas fisiológicas dos partidos e entrega nacos do Estado a interesses corporativos.
Foi eleito e já indicou metade dos seus ministros. Sempre que perguntado se tinha nomes em mente, o então candidato era vago. Fazia questão de assegurar que seriam nomes “exclusivamente técnicos”. Nada de “negociatas políticas” ou “escolhas ideológicas”. Ao ler o nome dos indicados, percebe-se o contrário.
Um dos poucos nomes garantidos durante as eleições foi Paulo Guedes. O guru econômico de Bolsonaro tem atuado como um primeiro-ministro do Brasil. Sondou Sérgio Moro antes mesmo do segundo turno. Depois das eleições, atacou parlamentares e está montando sua equipe econômica como se tivesse sido ele próprio o candidato mais votado.
Guedes é fundador do banco BTG Pactual. Escolheu para presidir o BNDES Joaquim Levy do Bradesco e ministro do desastroso ajuste de Dilma em 2015. Para o Banco Central indicou Roberto Campos Neto, do Santander.
Para a Petrobras, nomeou seu amigo da Escola de Chicago, Roberto Castello Branco, que defendeu publicamente neste ano privatizar a empresa. Dois privatistas também foram nomeados para a presidência da Caixa e do Banco do Brasil.
Seguindo o discurso de Bolsonaro, parte da mídia trata esses nomes como “economistas”, técnicos. Nada mais falso. Os porta-vozes dos principais órgãos públicos da nossa economia estão ligados ao mercado financeiro, numa verdadeira “porta giratória” com visível conflito de interesses. Com uma sucessão de lucros recordes, os bancos já vem traçando os rumos da economia nas últimas décadas. O controle que terão sobre a política econômica no próximo governo, é inédito.
De noite, montam sua plataforma de governo jantando com grandes acionistas e nomes ligados ao capital estrangeiro. De dia, utilizam a crise econômica para justificar as privatizações e a venda da soberania nacional a preço de banana.
Na política, Bolsonaro nomeou Onix Lorenzoni como ministro da Casa Civil. O deputado é filiado ao DEM há 21 anos, quando ainda chamava-se PFL e tinha como grande comandante o inesquecível Antônio Carlos Magalhães. Toninho Malvadeza foi um dos principais parlamentares a levantar a bandeira das dez medidas contra a corrupção, articuladas pelo Ministério Público Federal. Uma das medidas é a criminalização direta de quem receba recursos eleitorais via caixa 2. Ora, vejam só! Onix Lorenzoni admitiu ter recebido 100 mil reais da JBS, não declarados. Declarou-se, porém, arrependido e foi perdoado pelo Deus Sergio Moro. A JBS – Friboi, também deverá ser perdoada, como se verá logo abaixo.
Outra indicação, também do DEM, é a nova ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Líder da bancada ruralista, foi uma das principais articuladoras do avanço do projeto que quer flexibilizar o uso dos agrotóxicos no Brasil. Por conta disso, ganhou o apelido de “Musa do Veneno”. Durante o período na gestão estadual do Mato Grosso do Sul, deu incentivos fiscais à JBS - Friboi, fechou parcerias pessoalmente com Joesley Batista e recebeu doações eleitorais da empresa no mesmo ano. Não é exatamente um nome técnico, como diz Bolsonaro.
Nada mais absurdo que a nomeação do até então desconhecido dos brasileiros Ernesto Araújo como chanceler. Diplomata que atua nos Estados Unidos, fã incondicional de Donald Trump, disse que o presidente norte-americano é a salvação do Ocidente. Em blog pessoal, fez campanha aberta para Bolsonaro e atacou partidos de esquerda. Araújo vive em uma verdadeira realidade paralela, onde o "marxismo cultural" pilota o movimento "globalista", a China continua sendo um país Maoísta e o aquecimento global é um dogma esquerdista. Seus impropérios e disparates sucessivos fazem ruborizar um defunto, só de lembrar que será essa a voz do Brasil para o mundo.
Vamos em frente. O novo ministro da Saúde será Luiz Henrique Mandetta, terceiro nome do DEM. Está sendo investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa 2 na implementação de um sistema de prontuário eletrônico quando era secretário municipal de saúde. O médico já presidiu a Unimed e desde o início foi contra o Programa Mais Médicos. Difícil acreditar em alguém com ligação direta ao sistema privado de saúde, terá algum compromisso com o SUS.
As indicações da última semana foram fechadas com chave de ouro com o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez na Educação. É uma “tragédia anunciada”. O defensor feroz da dita escola "sem partido" é visceralmente antiesquerdista, exalta o golpe militar de 1964 e rasga elogios à monarquia. Um fundamentalista que parece desconhecer a Revolução Francesa. Não é a Marx que questiona, mas a Voltaire e o Iluminismo. Segundo os filósofos das principais universidades brasileiras, ele é pouco conhecido no meio. Sua obra é modesta e tem pouca experiência na área. Trevas à vista.
Um superministro banqueiro e com a agenda mais antipopular do período democrático. Um político que assumiu ser corrupto na Casa Civil. Uma ruralista que quer liberar geral o veneno na agricultura e na comida. Um fã de Donald Trump em cruzada contra o marxismo e o ambientalismo, na diplomacia. Um deputado investigado e contrário ao Mais Médicos na Saúde. Um inquisidor da Idade Média na Educação. Esse é parte do time de quem prometeu "varrer" o que havia de pior na política brasileira e montar uma equipe "técnica", não "ideológica". Já vi a história de “varrer” com o Jânio Quadros, que deu no que deu. Para tanto, o ministério de Bolsonaro é um verdadeiro “show de horrores”.

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