CIRCO DOS HORRORES
Depois de quatro anos fazendo campanha e vendendo a ideia de que mudaria
tudo, Bolsonaro cede às barganhas fisiológicas dos partidos e entrega nacos do
Estado a interesses corporativos.
Foi eleito e já indicou metade dos seus ministros. Sempre que perguntado
se tinha nomes em mente, o então candidato era vago. Fazia questão de assegurar
que seriam nomes “exclusivamente técnicos”. Nada de “negociatas políticas” ou “escolhas
ideológicas”. Ao ler o nome dos indicados, percebe-se o contrário.
Um dos poucos nomes garantidos durante as eleições foi Paulo Guedes. O
guru econômico de Bolsonaro tem atuado como um primeiro-ministro do Brasil.
Sondou Sérgio Moro antes mesmo do segundo turno. Depois das eleições, atacou
parlamentares e está montando sua equipe econômica como se tivesse sido ele
próprio o candidato mais votado.
Guedes é fundador do banco BTG Pactual. Escolheu para presidir o BNDES
Joaquim Levy do Bradesco e ministro do desastroso ajuste de Dilma em 2015. Para
o Banco Central indicou Roberto Campos Neto, do Santander.
Para a Petrobras, nomeou seu amigo da Escola de Chicago, Roberto
Castello Branco, que defendeu publicamente neste ano privatizar a empresa. Dois
privatistas também foram nomeados para a presidência da Caixa e do Banco do
Brasil.
Seguindo o discurso de Bolsonaro, parte da mídia trata esses nomes como “economistas”,
técnicos. Nada mais falso. Os porta-vozes dos principais órgãos públicos da
nossa economia estão ligados ao mercado financeiro, numa verdadeira “porta giratória”
com visível conflito de interesses. Com uma sucessão de lucros recordes, os
bancos já vem traçando os rumos da economia nas últimas décadas. O controle que
terão sobre a política econômica no próximo governo, é inédito.
De noite, montam sua plataforma de governo jantando com grandes
acionistas e nomes ligados ao capital estrangeiro. De dia, utilizam a crise
econômica para justificar as privatizações e a venda da soberania nacional a
preço de banana.
Na política, Bolsonaro nomeou Onix Lorenzoni como ministro da Casa
Civil. O deputado é filiado ao DEM há 21 anos, quando ainda chamava-se PFL e
tinha como grande comandante o inesquecível Antônio Carlos Magalhães. Toninho
Malvadeza foi um dos principais parlamentares a levantar a bandeira das dez
medidas contra a corrupção, articuladas pelo Ministério Público Federal. Uma
das medidas é a criminalização direta de quem receba recursos eleitorais via
caixa 2. Ora, vejam só! Onix Lorenzoni admitiu ter recebido 100 mil reais da
JBS, não declarados. Declarou-se, porém, arrependido e foi perdoado pelo Deus Sergio
Moro. A JBS – Friboi, também deverá ser perdoada, como se verá logo abaixo.
Outra indicação, também do DEM, é a nova ministra da Agricultura, Tereza
Cristina. Líder da bancada ruralista, foi uma das principais articuladoras do
avanço do projeto que quer flexibilizar o uso dos agrotóxicos no Brasil. Por
conta disso, ganhou o apelido de “Musa do Veneno”. Durante o período na gestão
estadual do Mato Grosso do Sul, deu incentivos fiscais à JBS - Friboi, fechou
parcerias pessoalmente com Joesley Batista e recebeu doações eleitorais da
empresa no mesmo ano. Não é exatamente um nome técnico, como diz Bolsonaro.
Nada mais absurdo que a nomeação do até então desconhecido dos
brasileiros Ernesto Araújo como chanceler. Diplomata que atua nos Estados
Unidos, fã incondicional de Donald Trump, disse que o presidente
norte-americano é a salvação do Ocidente. Em blog pessoal, fez campanha aberta
para Bolsonaro e atacou partidos de esquerda. Araújo vive em uma verdadeira
realidade paralela, onde o "marxismo cultural" pilota o movimento
"globalista", a China continua sendo um país Maoísta e o aquecimento
global é um dogma esquerdista. Seus impropérios e disparates sucessivos fazem ruborizar
um defunto, só de lembrar que será essa a voz do Brasil para o mundo.
Vamos em frente. O novo ministro da Saúde será Luiz Henrique Mandetta,
terceiro nome do DEM. Está sendo investigado por fraude em licitação, tráfico
de influência e caixa 2 na implementação de um sistema de prontuário eletrônico
quando era secretário municipal de saúde. O médico já presidiu a Unimed e desde
o início foi contra o Programa Mais Médicos. Difícil acreditar em alguém com
ligação direta ao sistema privado de saúde, terá algum compromisso com o SUS.
As indicações da última semana foram fechadas com chave de ouro com o
colombiano Ricardo Vélez Rodríguez na Educação. É uma “tragédia anunciada”.
O defensor feroz da dita escola "sem partido" é visceralmente
antiesquerdista, exalta o golpe militar de 1964 e rasga elogios à monarquia. Um
fundamentalista que parece desconhecer a Revolução Francesa. Não é a Marx que
questiona, mas a Voltaire e o Iluminismo. Segundo os filósofos das principais
universidades brasileiras, ele é pouco conhecido no meio. Sua obra é modesta e
tem pouca experiência na área. Trevas à vista.
Um superministro banqueiro e com a agenda mais antipopular do período
democrático. Um político que assumiu ser corrupto na Casa Civil. Uma ruralista
que quer liberar geral o veneno na agricultura e na comida. Um fã de Donald
Trump em cruzada contra o marxismo e o ambientalismo, na diplomacia. Um
deputado investigado e contrário ao Mais Médicos na Saúde. Um inquisidor da
Idade Média na Educação. Esse é parte do time de quem prometeu
"varrer" o que havia de pior na política brasileira e montar uma
equipe "técnica", não "ideológica". Já vi a história de
“varrer” com o Jânio Quadros, que deu no que deu. Para tanto, o ministério de
Bolsonaro é um verdadeiro “show de horrores”.
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