segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

768 - RELATIVISMO, ADESISMO E OUTRAS HISTÓRIAS

RELATIVISMO, ADESISMO E OUTRAS HISTÓRIAS – 768

15.01.2021 - Por JAIME CAPRA

    Fazendo uma rápida digressão, sendo esta a 768ª coluna que

escrevo para este jornal, lá se vão pelo menos 15 anos. Neste

período, tendo todas as colunas salvas num arquivo virtual, não

recordo de ter relativizado nenhum comentário. Nunca escrevi

“depende”, ou “talvez” para caracterizar a opinião que passei para

esta coluna.

    Chama-me atenção, principalmente neste momento de tempos

bicudos em razão da Pandemia e das turbulências políticas, a

facilidade com que o povo, de um modo geral, e nossos governantes

e representantes sobretudo, relativizam o cumprimento da Lei e

consequentemente da ordem.

    Fica difícil entender como ainda há pessoas que consideram

alguns crimes cometidos na atualidade como fatos banais e

condenam drasticamente os mesmos atos praticados a alguns anos.

Tais posicionamentos são alicerçados única e exclusivamente no

“adesismo”. Estas pessoas aderem a “facções”, mas criticam atos de

outras. É o velho “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço” e

cobram, por exemplo, a elucidação da morte do ex prefeito Celso

Daniel, mas não da vereadora Marielle Franco...

    O relativismo está presente também na força das leis, no

quanto é importante – ou não – cumpri-las. Neste ponto, os últimos

acontecimentos em nossa cidade provam que, cada vez mais, cumprir

a lei é para “alguns”.

    De acordo com os relativistas e os adesistas inclusive, as Leis

deveriam ser mudadas, a começar pela Constituição Federal. Onde se

lê “Todos são iguais perante a Lei, dever-se-ia acrescentar: Enquanto

eu não for considerado igual, porque sou diferente... sou a favor do

governo”!

    Os casamentos também deveriam ser mudados. No juramento

de fidelidade, ao invés de “até que a morte nos separe”, o adesista

deveria acrescentar: “enquanto você puder trabalhar para mim”. Nas

sentenças judiciais, os juízes deveriam acrescentar: “Condeno o Réu

a cumprir a pena que considerar adequada, com a possibilidade de

não cumpri-la se assim o desejar e sendo do agrado de seu chefe”!

Já o adesista de ocasião, ao tomar uma decisão, chamará todo

seu staff para consultar se é do agrado do chefe ou do prefeito, por

exemplo. Sendo assim, baixará o ato sem dar a mínima pelota para a

Lei, o Regimento ou o Regulamento.

    O adesista caroneiro, embarcará na primeira garupa que passar

pela frente, e invocará os termos ocultos da Lei que tratam do bom

senso. Poderá também propor o acréscimo de um dispositivo na Lei

para tratar especificamente sobre o assunto, cujo projeto levará o

nome de “bomsensismo” ou “bomsensório”, a ser discutido com os

pares adesistas. Talvez ainda poderá chamar-se de “suspensório”,

para o caso de o projeto ficar em suspenso até ser “endireitado”.

    O adesismo contaminou também o povo, ou pelo menos parte

dele. E neste ponto não há salvação. Basta ler os comentários nas

redes sociais e nos outdoors sobre a malfadada, fatídica e cancelada

primeira sessão extraordinária da Câmara de Vereadores (a Colenda).

Pessoas que carregaram a bandeira do Brasil nos atos “contra a

corrupção”, a favor do Novo Brasil, no fora esse, fora aquele, quer

um País melhor, seja honesto, etiquetando pessoas de determinado

partido como sendo os “fora da lei”, agora criticam os vereadores de

“oposição” por exigirem o cumprimento de quê? Da Lei! É. Daquela

mesma... da letrinha da lei...

    Naturalmente, como só ocorre no nosso País, incentivados

pelas “autoridades” adesistas e defensoras do “bom senso”. De

repente, exigir o cumprimento da lei é ser contra o prefeito...é

atrapalhar...é fazer “mimimi”.

    Nada disso, meus caros leitores e leitoras. A lei é a LEI. Se não é

para cumpri-la, para que existe? Para encher as prateleiras com

arquivo morto? Ora, ora minha gente: vamos usar a cabeça para

outras coisas, além de guardar o chapéu. Os vereadores que

barraram o projeto enfiado goela abaixo por um grupo de

inexperientes, visionários e sem noção, mostraram à população que

não estão dormindo de touca. Estão com os olhos e ouvidos bem

abertos. Ademais, foram eleitos para proteger a população contra os

desmandos e a ditadura. Não são oposição, são pela legalidade,

seriedade e interesse público. A expressão “interesse privado” não

consta no Regimento Interno nem na Lei Orgânica do Município.

Muito menos na Constituição Federal.

Boa Sorte a todos nesta 17ª Legislatura.