terça-feira, 13 de junho de 2023

COMO PODE? – 830 – 09.06.2023

 

         COMO PODE?

       Ainda hoje há quem ache e acredite piamente que um governo militar seria a salvação do Brasil. Mas cá entre nós, salvar o Brasil de quê ou de quem? Do próprio povo Brasileiro? Do comunismo? do socialismo? Ledo engano! Quem pensa assim não tem noção da realidade, não conhece a história ou deixa-se influenciar por falsos argumentos e por interesses escusos muito particulares.

Vamos a realidade dos fatos: os deslumbrados por um governo militar não tem noção do que foram os governos de 1964 a 1985 e quais os danos provocados ao Brasil neste periodo.

Sem falar em perseguições, prisões, torturas e fugas, o maior dano provocado pela Revolução de 1964 foi na mentalidade do povo brasileiro. A partir daquele funesto evento, o povo ficou receoso em se manifestar, reivindicar seus direitos, buscar melhores condições de vida e sobretudo perdeu a condição de agir junto ao governo. A sociedade brasileira foi totalmente desarticulada e as entidades representativas dos segmentos sociais foram jogadas na clandestinidade.

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Embora não sejam numericamente tão expressivas, as manifestações públicas de hoje em defesa da intervenção militar e da ditadura, estão se tornando mais frequentes. Para esses grupos, apenas os militares são capazes de enfrentar a crise. E aí cabe a pergunta: mas que crise?

Eles fazem apologia de um regime que deixou um rastro de marcas negativas na história brasileira. A ditadura militar (1964-1985) foi caracterizada pelo controle do Estado pela cúpula das Forças Armadas, pela ruptura do regime jurídico em vigor, pela cassação de direitos políticos de opositores e pela violação das liberdades individuais. No período, a tortura foi uma prática sistemática do regime e muitas pessoas morreram ou desapareceram, vítimas de crimes cometidos por agentes do Estado.

Além do autoritarismo e da violação dos direitos humanos, a ditadura militar deixou como herança graves prejuízos econômicos e sérios problemas sociais. A dívida externa cresceu mais de 30 vezes, gerando crise econômica e baixo crescimento de 1980 a 1990.

O poder de compra do salário mínimo caiu a quase metade, em valores atualizados. A taxa anual de inflação subiu de 85% para 178% e persistiu alta nos anos seguintes até ser controlada com o Plano Real.

Além da queda na renda, a economia não acompanhou o crescimento da população nas décadas seguintes. Os indicadores de desigualdade só melhoraram nos governos civis. Nos anos 2000 começaram a voltar ao patamar dos anos 1960. A falta de uma ampla reforma agrária foi substituída por uma precarização das condições de vida no campo, o que aumentou a migração da população rural para as cidades, criando graves problemas urbanos.

A centralização absoluta do poder gerou uma corrupção impune em superfaturamento de obras e desvio de dinheiro público nos negócios militares.

Esta é a realidade dos governos militares que parte da população ignora, ou finge ignorar. E o pior é que grande parte dos que hoje os defendem, por si ou por seus ascendentes sofreram na carne as consequências físicas, financeiras e sociais destes governos.

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       Na política, que num primeiro momento deixou de existir pois, os militares nada entendem do “métier”, não deixaram de aprontar das suas. Começaram acomodando-se nas cadeiras estofadas, substituindo os coturnos por sapatos com solado de couro, trocando a ordem unida por desfiles de terno e gravata e, para completar, abandonaram os Jipes Willys substituindo-os por limusines e aviões.

Em 1968 baixaram o AI 5 atribuindo a si próprios amplos poderes. O ventríloquo Costa e Silva, de Taquari/RS, o mais despreparado de todos, foi o porta voz e assinante do decreto que concedeu ao presidente poderes quase ilimitados. Com isso, pode fechar o Congresso Nacional, casas legislativas, cassar mandatos e, inclusive, proibir habeas corpus para crimes políticos.  

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Para consertar a lambança e mostrar ao povo tremelique que até os militares são socialistas, iniciaram um processo de “abertura política” depois de matar e espancar meio mundo. Permitiram a criação de dois partidos: ARENA e MDB e também permitiram eleições, menos nas capitais estaduais e nos municípios de fronteira, onde os mandatários seriam nomeados pelos generais. Criaram também a possibilidade de sublegendas, para garantir que as vitórias nas eleições fossem da ARENA. Criaram também o senador biônico, para garantir a maioria no Congresso Nacional. Mas a pérola dos militares, conhecida como Lao Tzu, a maior já encontrada, foi a ideia do voto vinculado. Quem votasse num partido, teria que votar no mesmo partido nos demais candidatos. Isto garantiria vitórias em série.

Ah os militares! Vocês ainda os querem no poder?

Até a próxima.