819 – OS LUSÍADAS – Luiz Vaz de Camões
Excertos – Por Jaime Capra
Os Lusíadas é um poema épico com as seguintes características:
possui caráter narrativo, tem a presença de um herói, narra fatos heroicos,
narra obstáculos a serem vencidos pelo protagonista, fala da missão a ser
cumprida pelo herói, faz menção a deuses ou seres mitológicos, fala de acontecimentos
extraordinários, enaltece a tradição portuguesa e possui versos decassílabos.
Dividido
em dez cantos, com a seguinte estrutura épica: proposição ou prólogo, invocação
a uma divindade, dedicatória, relato das aventuras de Vasco da Gama e conclusão
ou epílogo.
O poema épico Os Lusíadas é a principal obra do classicismo
português, estilo de época, com as seguintes características: visão antropocêntrica,
semipaganismo, valorização dos temas da Antiguidade, equilíbrio e simplicidade,
bucolismo, idealização do amor, idealização da mulher e rigor formal.
Escrito em versos decassílabos, Os Lusíadas enaltece a nação
portuguesa e mostra como esse povo, representado pelos seus heróis
conquistadores, é corajoso e audaz.
Alguns
versos do poema: As armas e os Barões assinalados; Que da Ocidental praia
Lusitana; Por mares nunca de antes navegados; Passaram ainda além da Taprobana.
Em
perigos e guerras esforçados; Mais do que prometia a força humana; E entre
gente remota edificaram; Novo Reino, que tanto sublimaram;
Desse modo, Camões relata as conquistas dos reis portugueses,
que foram dilatando a fé, o império, e as terras viciosas de África e de Ásia. Porém,
antes, ele segue a convenção epopeica e invoca as ninfas do rio Tejo, em
Portugal. “Dai-me agora um som alto e sublimado um estilo grandíloco e corrente,
por que de vossas águas Febo ordene, que não tenham enveja às de Hipocrene.
(Grafia do original).
Além disso, o narrador dedica seus versos a D. Sebastião
(1554-1578), rei de Portugal. Em alguns momentos da obra, ele também se dirige
ao monarca como seu interlocutor, para tornar a saga portuguesa ainda mais
sublime, mostra que os lusos são protegidos pelos deuses do Olimpo, em clara
referência à cultura greco-latina, como mostram estas palavras de Júpiter: “Eternos
moradores do luzente, Estelífero Polo e claro Assento, Se do grande valor da
forte gente, De Luso não perdeis o pensamento, Deveis de ter sabido claramente,
Como é dos Fados grandes certo intento, Que por ela se esqueçam os humanos, De
Assírios, Persas, Gregos e Romanos.
Assim, no prólogo, o narrador apresenta o herói da epopeia, ou
seja, Vasco da Gama (1469-1524): Vasco da Gama, o forte Capitão, Que a tamanhas
empresas se oferece, De soberbo e de altivo coração, A quem Fortuna sempre
favorece, Pera se aqui deter não vê razão, Que inabitada a terra lhe parece
(grafia original).
** DIANTE DE RENOMADA OBRA, IMPOSSÍVEL tratar
da história (que não se pode mudar) como algo estático, recorrente, porque como
é de hábito dizer, “a história se repete” sobretudo quando contada em prosa ou
versos por escritores e poetas de renomado conceito intelectual.
Assim, transportando a epopeia portuguesa para nossos dias
atuais, impossível não fazer a comparação, embora opiniões discordantes.
Vejamos as estrofes introdutórias desta matéria, citadas acima, onde se
identifica que as armas e barões chegaram através de métodos nunca antes experimentados
e foram além dos limites. A partir desta ação, as armas e os barões forçaram
perigos e guerras mais forte do que prometia a força humana, e entre gente
pacifica tentaram edificar o novo reino que tanto desejaram.
No
epílogo, os conquistadores voltam para Portugal, e o narrador termina a obra
com as seguintes sugestões: Cessem do sábio Grego e do Troiano, As navegações grandes que
fizeram; Cale-se de Alexandre e de Trajano, A fama das vitórias que tiveram; Que
eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Neptuno e Marte obedeceram: Cesse
tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta.
Esta estrofe de Os
Luzíadas, especialmente os dois últimos versos, é sem dúvidas a mais citada e
referida da obra de Camões. Pode ser aplicada em qualquer circunstância: no
trabalho, quando o patrão diz “aqui quem manda sou eu...”; na vida doméstica
quando alguém diz: “vou fazer do meu jeito” e principalmente na política,
quando assume um novo governo e diz: bem, agora não adianta chiar... nós governamos
e pronto! “Cesse tudo o que a Musa
antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta”.