817 – PERSONAGENS Da Cultura – 02.12.2022
Por Jaime Capra;
Embora longe do atual contexto e distante de meu perfil
crítico, retorno a este jornal onde permaneço há mais de 15 anos produzindo
precisamente 816 colunas excetuando aquelas que não enumerei. Neste espaço, passo
a falar não mais de pessoas ou fatos, mas de personalidades, aquelas que
contribuem ou contribuíram com a cultura do povo com sua arte literária, esportiva,
musical, filosófica, jornalística, e tantas outras muitas vezes às avessas e também
aquelas que divertiram com sua arte ou seus descuidos.
Nesta reestreia(?) quero falar sobre a escritora e poetisa Sophia
de Mello Breyner Andersen, nascida em 06 de novembro de 1919 na Cidade do
Porto, tendo falecido em 02 de julho de 2004 em Lisboa. Sua trajetória iniciou
na Universidade de Coimbra, tendo recebido vários prêmios, como o Prêmio Camões
e Premio Rainha Sofia, prêmios mais importantes da literatura Portuguesa. Teve
suas obras traduzidas em 27 idiomas.
Sophia
de Mello Breyner Andresen foi uma das mais importantes
poetisas portuguesas do Século XXl. Foi a primeira mulher portuguesa a receber
o mais importante galardão literário da Lingua Portuguesa, o Prêmio
Camões.
Em 1964 recebeu o Grande Prémio de Poesia
pela Sociedade
Portuguesa de Escritores pelo seu livro Livro sexto. Já depois da Revolução
de 25 de Abril, foi eleita para a Assembleia
Constituinte, em 1975, pelo círculo do Porto numa lista do Partido
Socialista.
Distinguiu-se também como contista e autora de livros infantis.Foi também tradutora
de Dante
Alighieri e de Shakespeare e membro da Academia
das Ciências de Lisboa.
Em sua obra, a autora faz lembrar sobretudo a
importância das casas, lembrança que terá grande impacto na sua obra, ao
descrever as casas e os objetos dentro delas. Quero que a memória delas não vá à deriva, não se perca",
dizia. Está presente em Sophia também uma ideia da poesia como valor transformador fundamental. A sua produção corresponde a
ciclos específicos, com a culminação da atividade da escrita durante a noite. A
vivência noturna da autora é sublinhada em vários poemas: "Noite",
"O luar", "O jardim e a noite", "Noite de Abril",
"Ó noite"). Aceitava a noção de poeta inspirado. Afirmava que a sua
poesia lhe acontecia, como
a Fernando
Pessoa.
O
contato com a natureza também marcou profundamente a sua obra. Era para a
Autora um exemplo de liberdade, beleza, perfeição e de mistério e é largamente
citada da sua obra, quer citada pelas alusões à terra, quer pelas referências
ao mar. O Mar é um dos conceitos-chave na criação literária de 'Sophia de Mello
Breyner Andresen: "Desde a orla do mar/ Onde tudo começou intacto no
primeiro dia de mim". O efeito literário da inspiração no Mar pode se
observar em vários poemas, como, por exemplo, "Homens à beira-mar" ou
"Mulheres à beira-mar". A autora comenta isso do seguinte modo:"Esses poemas têm a ver com as manhãs
da Granja, com as manhãs da
praia. E também com um quadro de Picasso.
De modo geral, o
universo temático da Autora é abrangente e pode ser representado pelos
seguintes pontos resumidos: A busca da justiça, do equilíbrio, da harmonia e a exigência do moral; Tomada de
consciência do tempo em que vivemos; A Natureza e o Mar – espaços eufóricos e referenciais para qualquer ser humano; O tema da casa; Amor; Vida em oposição à morte; Memória da
infância; Valores da antiguidade clássica; Idealismo e individualismo; O poeta como pastor do absoluto; O humanismo cristão.
"A poesia de 'Sophia de Mello é uma das vozes mais nobres da poesia portuguesa
do nosso tempo. Entendamos, por sob a música dos seus versos, um apelo
generoso, uma comunhão humana, um calor de vida, uma franqueza rude no amor, um
clamor irredutível de liberdade, aos quais, como o poeta ensina, devemos
erguer-nos sem compromissos nem vacilações." (Jorge de Sena,
"Alguns Poetas de 1938" in Colóquio: Revista de
Artes e Letras, nº 1, Janeiro de
1959).
Até a Próxima
Um comentário:
Muito bom e necessário este resgate. Precisamos de mais arte e cultura na nossa vida. Parabéns!
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