ESCRIBAS E PITAQUEIROS
Escrevendo às antigas (afinal eu posso)
dedicando estas mal traçadas linhas à legião de escribas palpiteiros que não se
intitulam jornalistas e a não menor legião de jornalistas que não passam de
palpiteiros vinculados a um emprego ou à alguns reais a mais em seu faturamento
mensal.
Os primeiros, mais
raros, escrevem por prazer, por convicção, por idealismo, por qualquer
motivação interior, independente de favores recebidos, perspectiva de lucro ou
ganho fácil para si ou para os seus. Estes navegam sempre em direção à linha de
chegada, independentemente da direção dos ventos. Não se importam em enfrentar
borrascas, tempestades ou tsunamis. Seu objetivo está traçado e identificado.
Pretendem alcançá-lo.
A segunda leva
sempre tem como objetivos alcançar o bem estar, os favores, as retribuições. Só
navegam a favor dos ventos. Quando uma borrasca se aproxima, não relutam em
mudar de rumo. São a favor da tese que Cabral descobriu o Brasil por engano.
Seu rumo seria o caminho das Índias. Acabou encontrando os Índios.
A CARTA
A interpretação dada à carta de Dilma
Rousseff aos senadores que lhe cortarão a cabeça, está recebendo várias
interpretações. São poucas, é verdade, as que se atém a analisar seu conteúdo à
luz do que efetivamente contém.
O jornalista Juremir Machado da Silva, escritor, tradutor e professor universitário, formado em jornalismo e
história na PUCRS onde coordena o Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Social, também doutor em Sociologia pela Universidade de Paris V, René
Descartes e Sorbonne, amigo de Edgar Morin, Jean Baudrillard e Michel
Maffesoli, adjetivou o conteúdo como: tardia, justa, inútil, perfeita,
legítima, correta, pertinente, consistente, propositiva e oportuna. Os
adversários preferem vê-la como oportunista, vazia, ardilosa, desesperada,
monológica e enganadora. Até aí, tudo bem, pois tanto os pró quanto os contra,
seguindo a ótica do Juremir, atém-se exclusivamente ao conteúdo da referida
carta.
O que é difícil para um escriba
palpiteiro entender é a motivação de alguns que se dizem jornalistas e ostentam
diplomas universitários, para ter entendimento tão diverso a ponto de
desclassificar a pessoa e não a obra sob análise.
Os adjetivos atribuídos à autora da carta
depõem contra quem os profere mostrando toda sua limitação vocabular e
escancara o viés pessoal e interesseiro do comentário.
Vivemos num país sob forte turbulência
política, num estado e município inseridos neste mesmo contexto, todos sofrendo
dificuldades em conseqüência de conjunturas mundiais que foram se alastrando,
além de conjunturas locais decorrentes de erros ou falhas em previsões
estratégicas que levaram às atuais dificuldades. Condenar a redação de uma
carta por conta desses pressupostos denota limitação na análise conjuntural dos
fatos e falta de coerência com o que acontece em igual ou pior proporção logo
abaixo dos nossos narizes.
Assim, se a carta
da Dilma atiça o senso de rigor em sua análise, este mesmo senso poderia ser
adotado na análise da declaração do candidato a prefeito pelo PMDB, partícipe
da atual administração até ontem, que afirmou peremptoriamente haver
necessidade de reduzir o peso da máquina pública para estancar a falta de
dinheiro. Pela crise brasileira, condene-se a Dilma. Pela crise no município de
São Miguel do Oeste, louve-se e que se reelejam seus causadores. Sendo para
isso, jamais quero ser denominado jornalista. Prefiro ser escriba pitaqueiro,
colunista de banheiro como já fui assim denominado publicamente.
BUSCA DOS CULPADOS
Já publiquei, mas
vejo a necessidade de repetir quais são as fases de um projeto. O projeto a que
me refiro é o Respeito às Pessoas e o Plano 15 do triunvirato da atual
administração municipal. São as seguintes as fases: 1. Entusiasmo; 2.
Apreensão; 3. Decepção; 4. Busca dos Culpados; 5. Punição dos Inocentes; 6.
Promoção dos Não Participantes.
O entusiasmo veio com a famosa faixa:
“Entendeu ou quer que eu desenhe!”. A apreensão veio com a dificuldade em
compor o governo em meio a tantos interesses. A decepção chegou com a
incapacidade para resolver os problemas mais simples e elementares. A campanha
pela eleição trouxe a 4ª fase que é a busca dos culpados, sendo escolhida a
Câmara Municipal como culpada, esquecendo o quanto ela ajudou busca na gestão
anterior. A punição dos inocentes ainda está por vir, mas já há sérios e vários
candidatos a culpado. A promoção dos não participantes virá após conhecido o
resultado da votação. É esperar para conferir.
COMEÇOU
Mal começou a
campanha e a prática da mentira está em voga. Para justificar a falta de
competência, comenta-se que a Câmara de Vereadores não liberou o dinheiro do
governo do estado. Não custa lembrar que o valor era para abastecer máquinas
que já foram vendidas. Passado todo esse tempo, finalmente a cúpula diretiva
municipal, ponteada pelo jurisconsulto mor, resolveu enviar o projeto
substitutivo que se faz necessário. A queda de braço foi vencida pelos
vereadores. Do lado perdedor, a demora deveu-se pela prática consolidada e
internalizada de transformar a câmara municipal numa filial do gabinete e do
seu anexo. Não deu certo. Os tempos mudaram. Já não há mais burricos para
colocar cabresto. A administração pública tem que andar direito em Brasília
–Não é?- e em São Miguel do Oeste também. Sempre é tempo de aprender alguma
coisa, embora já não haja Mobral.
A BOCA PEQUENA
Fala-se por aí que
um determinado secretário municipal foi proibido de acompanhar a caravana
oficial para pedir votos no interior. Lá, não seria bem visto.
FALA ANIMADORA
Pode-se
tranquilamente falar em candidatos oficiais sem citar nomes, porque dos quatro
que se apresentam, três são oficiais por fazerem parte da atual administração.
Assim, um deles afirmou ser necessário reduzir o contingente de “colaboradores”
na administração municipal. Só não disse se em decorrência da redução do número
de partidos na composição ou se por motivo de economia.
O certo é que se a situação está
insustentável, ela foi gerada por todos os candidatos juntos, menos um. Ou não?