sexta-feira, 21 de setembro de 2018

O IMBECIL JUVENIL

O IMBECIL JUVENIL
Não acredito na mentira que celebra a juventude como uma
época de rebeldia, de independência, de amor à liberdade. Nunca
dei crédito a esta bobagem, nem mesmo quando jovem, pois na
época pouco se falava nisso. Ao contrário, desde cedo me
impressionaram, na conduta de meus companheiros de geração, o
espírito de rebanho, o temor do isolamento, a subserviência à voz
corrente, a ânsia de sentir-se iguais e aceitos pela maioria cínica e
autoritária, a disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em troca
de uma vaguinha no grupo dos bacanas.
O jovem, é verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e
professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e
jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os
pais é um teatrinho no qual um dos contendores luta para vencer e
o outro para ajudá-lo a vencer.
Muito diferente é a situação do jovem ante os da sua geração,
que não têm as complacências do paternalismo. Longe de protegê-
lo, essa massa barulhenta recebe o novato com desprezo e
hostilidade que lhe mostram a necessidade de obedecer. É o reino
dos mais fortes que se firma sobre a fragilidade do recém-chegado,
antes de aceitá-lo como membro. Para não ser devolvido aos
braços da mãe, ele tem de ser aprovado num exame que lhe exige
a supressão de sua personalidade.
É verdade que ele se submete a isso com prazer, com ânsia de
apaixonado que tudo fará em troca de um sorriso condescendente.
A massa de companheiros de geração representa o mundo grande
no qual o adolescente, emergindo do pequeno mundo doméstico,
pede ingresso. E o ingresso custa caro. O candidato deve, desde
logo, aprender todo um vocabulário, um código de senhas e
símbolos. A mínima falha expõe ao ridículo, e a regra do jogo é
implícita, devendo ser adivinhada antes de conhecida. O modo de
aprendizado é sempre a imitação sem questionamentos. O ingresso
no mundo juvenil dispara a toda velocidade o motor de todos os
desvarios humanos.
Não é de espantar que o rito de ingresso no grupo, custando
alto investimento psicológico, termine por levar o jovem à completa
exasperação.
Para onde, então, se voltará o rancor? A família surge como o
bode expiatório de todos os fracassos do jovem no seu rito de
passagem.
Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor
ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama.
Este o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia dos
adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve
sempre na vanguarda de todos os erros e perversidades do século:
nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudorreligiosas, consumo
de drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na
direção do pior. Um mundo que confia seu futuro ao discernimento
dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro
algum.

GERAÇÃO PERDIDA
Os jovens eleitores do passado, tanto quanto os atuais,
percebem que nada sabem do que é bom ou mau para seu país,
estado ou município e muito menos das ideologias em disputa nas
eleições. Por isso abstém-se de votar e a partir daí começam a
estudar o País onde vivem. Ao envelhecer, podem ajudar muitas
gerações a votar com mais seriedade e conhecimento de causa,
sem deixar-se iludir pelas falsas alternativas da propaganda
imediata. Saber primeiro para julgar depois é o dever número um
do homem responsável. Dever que o voto obrigatório, sob a escusa
de ensinar, força a desaprender. As coisas podem não ser o que
parecem.
Hoje, raramente se encontra um jovem que não queira
“transformar o mundo”, e que não transfira aos gregos o dever de
perguntar o que é o mundo.
No Brasil, cultura e inteligência são coisas para depois da
aposentadoria. Quando todas as decisões estiverem tomadas,
quando a massa de seus efeitos tiver se adensado numa torrente
irreversível de declínio, aí o cidadão pensará em adquirir
conhecimento que, a essa altura, só poderá servir para lhe informar
o que deveria ter feito e não fez. Então, o conhecimento perderá
toda a sua força, reduzindo-se a um penduricalho, a um adorno
inofensivo de uma velhice calhorda.
Eis onde termina a vida daquele que, na juventude, em vez de
esperar até compreender, cedeu à tentação lisonjeira do primeiro
convite e se tornou um “participante”, um “transformador do
mundo”.
O Brasil é o país do gênio prematuro, degradado em bobalhão
senil logo na primeira curva da maturidade. Em todas essas
pessoas que falam em nome do futuro, o sentimento dominante é a
saudade de si mesmas. Não falta a esses indivíduos a consciência
de que suas vidas falharam. Mas atribuem a culpa aos outros, ao
governo militar que impediu sua geração de “chegar ao poder”. No
entanto, a desculpa é falsa, porque, mal ou bem, eles estão no
poder. Eram jovens militantes, hoje são deputados, são
catedráticos, são escritores de sucesso, são formadores de opinião.
Por que, então, lambem com tanta nostalgia e ressentimento as
feridas da sua juventude perdida? É porque foi perdida num sentido
muito mais profundo e irremediável que o da mera derrota política.
A agora é tarde para voltar atrás.

Nenhum comentário: