segunda-feira, 4 de julho de 2022

807 – O Brasil dorme, a ambição trabalha

       >>- Nosso povo nem parece ser brasileiro. Sai em massa às ruas para o carnaval, festas juninas, vitória de seu time, vibrar e aplaudir um cantador sertanejo e outras baboseiras mais. Por outro lado, parece mesmo ser Brasileiro, dada sua passividade com o errado, com as promessas não cumpridas, com governos e políticos individualistas, com administrações públicas que são pagas pelos que efetivamente são brasileiros. Nestas condições, os que recebem o sagrado votinho e gastam o dinheiro do povo, quero dizer o “seu dinheiro” com cartões corporativos, projetos que visam unicamente sua mantença nos postos superiores onde faturam altos salários e vantagens que agregam, não fazem outra coisa senão rir de quem os colocou lá. Pior, a cada quatro anos voltam para o lugar que sequer pronunciam o nome pois o chamam de “base eleitoral” para renovar as promessas sob outra roupagem e continuar iludindo a quem sequer sabe ao certo se é ou não brasileiro.

      

       >>- Os sinais de perda da brasilidade estão presentes no quotidiano, em todos os lugares e em todas as situações. Começando pelo supermercado, o Brasileiro acha normal pagar R$25,00 por um pacote de pés de galinha, sendo o maior produtor mundial de frangos. Acha normal pagar R$ 50,00 por um quilo de carne de segunda, tendo o Brasil com o maior rebanho bovino do planeta. Só um segmento, dos caminhoneiros, reclama do preço do combustível. Reclama mas não age pois deve saber que está em seu País uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Ameaça uma grevezinha e quando aparece um político fazendo promessas e oferecendo um carguinho, os líderes da categoria não hesitam em parar a greve e aceitar o cargo. E esses caminhoneiros, principalmente os autônomos, porque os grandes tem outros recursos para ganhar dinheiro, ainda acreditam que todos os governos estão interessados no bem estar do povo.

O empresariado brasileiro deve estar felize com o número espantoso de desempregados, pois através do princípio basilar da economia, Lei da oferta e da procura, quanto maior a procura por emprego, menor o salário. Então minha gente, o desemprego favorece os empresários e ferra os trabalhadores. Mesmo assim não gostam quando o governo distribui algumas migalhas aos pobres, taxando-os de vagabundos.

Não gostaria de falar do preço do óleo de soja, do leite e seus derivados, sabendo que o Brasil é um dos maiores produtores de produtos agrícolas. Até o mal falado papel higiênico. Tendo o Brasil como um dos maiores produtores de celulose, matéria prima para sua fabricação, está fora do alcance financeiro da maioria das famílias brasileiras. Para completar, nem podem usar o velho sabugo para substituí-lo, pois o preço do milho também está fora do alcance, impedindo a substituição do pão pela velha e conhecida polenta.

Diante disto, culpar o governo é covardia. Nós, povo, é que somos os verdadeiros culpados: primeiro por permitirmos ser governados por desqualificados e segundo por permanecermos passivos diante de tantas aberrações. Nos orgulhamos do lucro auferido pelos bancos, pelo lucro e distribuição de rendimentos aos acionistas da Petrobrás, nos orgulhamos das emendas que os parlamentares mandam para os municípios para asfaltar ruas onde já tem calçamento. Não reclamamos nada se faltam remédios no posto de saúde, se o IPTU está muito elevado, se a justiça trata mal quem dela precisa, se a polícia está mais para multar que para proteger, se o telefone, luz e água estão caros. Nada disto importa.  Por isto, somos todos uns idiotas. Se nos falta brasilidade, nos sobra burrice

 

>>-Uma pesquisa atual diz que as “teorias da conspiração” – terra plana, vírus chinês, cloroquina, etc. conseguem a adesão de parcelas significativas dos brasileiros. Isto mostra algo mais que burrice ou desinformação. Se analisar a pesquisa, “o dobro dos brasileiros se diz mais de direita que esquerda”, reforça a ideia do segmento dominante do conservadorismo brasileiro passou a ser dependente da ignorância e, assim, algo como “coisa de pobre”.

Do total de entrevistados, 27% acha ser mentira que o homem foi à Lua. Isto  pode ser atribuídas à falta de informação nas periferias e nos sertões. Mas 21%, um quinto!, dos que têm nível superior adotem esta mesma ideia, mesmo percentual dos que concordam que a Terra é plana. Mesmo assim, 49% acham que o Corona vírus foi criado pelo governo chinês e faz parte de uma “conspiração de esquerda” que visa “dominar o mundo”. Isto é verdade para 36% dos entrevistados.

É claro que o bolsonarismo insuflou esta onda, mas não é apenas isso. Resultam também, de um mundo onde a estupidez intelectual deixou de ser um impedimento ao progresso social e que o conhecimento tenha se tornado uma mercadoria que pode ser   encontrada com facilidade nas prateleiras dos mercados e comprada, bem barato e até de graça dos especialistas.

A direita política sempre se valeu disso, mas com certa vergonha. Quando eu era guri, era comum que quem ascendesse economicamente se preocupasse em comprar uma bela estante e livros “a metro” para dar impressão de sabedoria. Hoje, são os livros que os procuram, como se faz exemplo a medalha outorgada ao brucutu Daniel Silveira.

E o presidente da República está indignado com a possibilidade de que clubes de tiro possam tornar-se bibliotecas. Não é loucura, é um método. A estupidez, frequentemente, é a porta de uma felicidade possível, a de um mundo que não se pode mudar. Pode ser remendado com convicções simplórias, onde o “é a minha opinião” transforma-se em razão suprema e imutável. Na verdade, somos todos uns idiotas.  

 

Até a próxima. 

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