Carta aberta de Thereza Collor para Renan Calheiros (Confira)
Postado dia: 09/12/2016 às 16:02
‘Vida de gado. Povo marcado. Povo feliz’. As vacas de Renan dão cria 24 h por dia. Haja capim e gente besta em Murici e em Alagoas! Uma qualidade eu admiro em você: o conhecimento da alma humana. Você sabe manipular as pessoas, as ambições, os pecados e as fraquezas.
Do menino ingênuo que eu fui buscar em Murici para ser deputado estadual
em 1978 – que acreditava na pureza necessária de uma política de
oposição dentro da ditadura militar – você, Renan Calheiros, construiu
uma trajetória de causar inveja a todos os homens de bem que se
acovardam e não aprendem nunca a ousar como os bandidos.
Você é um homem ousado. Compreendeu, num determinado momento, que a
vitória não pertence aos homens de bem, desarmados desta fúria do
desatino, que é vencer a qualquer preço. E resolveu armar-se. Fosse qual
fosse o preço, Renan Calheiros nunca mais seria o filho do Olavo, a
digladiar-se com os poderosos Omena, na Usina São Simeão, em
desigualdade de forças e de dinheiros.
Decidiu que não iria combatê-los de peito aberto, descobriria um atalho,
um mil artifícios para vencê-los, e, quem sabe, um dia derrotaria todos
eles, os emplumados almofadinhas que tinham empregados cujo serviço
exclusivo era abanar, durante horas, um leque imenso sobre a mesa dos
usineiros, para que os mosquitos de Murici (em Murici, até os mosquitos
são vorazes) não mordessem a tez rósea de seus donos: Quem sabe, um dia,
com a alavanca da política, não seria Renan Calheiros o dono único,
coronel de porteira fechada, das terras e do engenho onde seu pai,
humilde, costumava ir buscar o dinheiro da cana, para pagar a educação
de seus filhos, e tirava o chapéu para os Omena, poderosos e perigosos.
Renan sonhava ser um big shot, a qualquer preço. Vendeu a alma, como o Fausto de Goethe, e pediu fama e riqueza, em troca.
Quando você e o então deputado Geraldo Bulhões, colegas de bancada de
Fernando Collor, aproximaram-se dele e se aliaram, começou a ser Parido o
novo Renan.
Há quem diga que você é um analfabeto de raro polimento, um intuitivo.
Que nunca leu nenhum autor de economia, sociologia ou direito. Os seus
colegas de Universidade diziam isso. Longe de ser um demérito, essa sua
espessa ignorância literária faz sobressair, ainda mais, o seu talento
de vencedor. Creio que foi a casa pobre, numa rua descalça de Murici,
que forneceu a você o combustível do ódio à pobreza e o ser pobre. E
Renan Calheiros decidiu que, se a sua política não serviria ao povo em
nada, a ele próprio serviria em tudo. Haveria de ser recebido em
Palacios, em mansões de milionários, em Congressos estrangeiros, como um
príncipe, e quando chegasse a esse ponto, todos os seus traumas
banhados no rio Mundaú, seriam rebatizados em Fausto e opulência; “Lá
terei a mulher que quero, na cama que escolherei. Serei amigo do Rei.”
Machado de Assis, por ingênuo, disse na boca de um dos seus personagens:
“A alma terá, como a terra, uma túnica incorruptível.” Mais adiante,
porém, diante da inexorabilidade do destino do desonesto, ele advertia:
“Suje-se, gordo! Quer sujar-se? Suje-se, gordo!”
Renan Calheiros, em 1986, foi eleito deputado federal pela segunda vez.
Nesse mandato, nascia o Renan globalizado, gerente de resultados,
ambição à larga, enterrando, pouco a pouco, todos os escrúpulos da
consciência. No seu caso, nada sobrou do naufrágio das ilusões de moço!
Nem a vergonha na cara. O usineiro João Lyra patrocinou essa sua
campanha com US1.000.000. O dinheiro era entregue, em parcelas, ao seu
motorista Milton, enquanto você esperava, bebericando, no antigo Hotel
Luxor, av. Assis Chateaubriand, hoje Tribunal do Trabalho.
E fez uma campanha rica e impressionante, porque entre seus eleitores
havia pobres universitários comunistas e usineiros deslumbrados, a
segui-lo nas estradas poeirentas das Alagoas, extasiados com a sua
intrepidez em ganhar a qualquer preço. O destemor do alpinista, que ou
chega ao topo da montanha – e é tudo seu, montanha e glória – ou morre.
Ou como o jogador de pôquer, que blefa e não treme, que blefa rindo, e
cujos olhos indecifráveis intimidam o adversário. E joga tudo. E vence.
No blefe.
Você, Renan não tem alma, só apetites, dizem. E quem, na política
brasileira, a tem? Quem, neste Planalto, centro das grandes picaretagens
nacionais, atende no seu comportamento a razões e objetivos de
interesse público? ACM, que, na iminência de ser cassado, escorregou
pela porta da renúncia e foi reeleito como o grande coronel de uma Bahia
paradoxal, que exibe talentos com a mesma sem-cerimônia com que cultiva
corruptos? José Sarney, que tomou carona com Carlos Lacerda, com
Juscelino, e, agora, depois de ter apanhado uma tunda de você, virou seu
pai-velho, passando-lhe a alquimia de 50 anos de malandragem?
Quem tem autoridade moral para lhe cobrar coerência de princípios? O
presidente Lula, que deu o golpe do operário, no dizer de Brizola, e
hospedou no seu Ministério um office boy do próprio Brizola? Que taxou
os aposentados, que não o eram, nem no Governo de Collor, e dobrou o
Supremo Tribunal Federal? No velho dizer dos canalhas, todos fazem isso,
mentem, roubam, traem. Assim, senador, você é apenas o mais esperto de
todos, que, mesmo com fatos gritantes de improbidade, de desvio de
conduta pública e privada, tem a quase unanimidade deste Senado de
Quasímodos morais para blinda-lo.
E um moço de aparência simplória, com um nome de pé de serra – Siba – é o
camareiro de seu salvo-conduto para a impunidade, e fará de tudo para
que a sua bandeira – absolver Renan no Conselho de Ética – consagre a
sua carreira. Não sei se este Siba é prefixo de sibarita, mas, como seu
advogado in pectore, vida de rico ele terá garantida. Cabra bom de
tarefa, olhem o jeito sestroso com que ele defende o chefe… É mais
realista que o Rei. E do outro lado, o xerife da ditadura militar, que,
desde logo, previne: quero absolver Renan.
Que Corregedor!… Que Senado!…Vou reproduzir aqui o que você declarou
possuir de bens em 2002 ao TRE. Confira, tem a sua assinatura:
1) Casa em Brasília, Lago Sul, R$ 800 mil;
2) Apartamento no edifício Tartana, Ponta Verde, R$ 700 mil;
3) Apartamento no Flat Alvorada, DF, de R$ 100 mil;
4) Casa na Barra de S Miguel de R$ 350 mil.
2) Apartamento no edifício Tartana, Ponta Verde, R$ 700 mil;
3) Apartamento no Flat Alvorada, DF, de R$ 100 mil;
4) Casa na Barra de S Miguel de R$ 350 mil.
E SÓ.
Você não declarou nenhuma fazenda, nem uma cabeça de gado! Sem levar em
conta que seu apartamento no Edifício Tartana vale, na realidade, mais
de R$1 milhão, e sua casa na Barra de São Miguel, comprada de um
comerciante farmacêutico, vale mais de R$ 2.000.000. Só aí, Renan, você
DECLARA POSSUIR UM PATRIMONIO DE CERCA DE R$ 5.000.000.
Se você, em 24 anos de mandato, ganhou BRUTOS, R$ 2 milhoes, como comprou o resto? E as fazendas, e as rádios, tudo em nome de laranjas? Que herança moral você deixa para seus descendentes?
Se você, em 24 anos de mandato, ganhou BRUTOS, R$ 2 milhoes, como comprou o resto? E as fazendas, e as rádios, tudo em nome de laranjas? Que herança moral você deixa para seus descendentes?
Você vai entrar na história de Alagoas como um político desonesto, sem
escrúpulos e que trai até a família. Tem certeza de que vale a pena? Uma
vez, há poucos anos, perguntei a você como estava o maior latifundiário
de Murici. E você respondeu: “Não tenho uma só tarefa de terra. A
vocação de agricultor da família é o Olavinho.” É verdade, especialmente
no verde das mesas de pôquer!
O Brasil inteiro, em sua maioria, pede a sua cassação. Dificilmente você
será condenado. Em Brasília, são quase todos cúmplices. Mas olhe no
rosto das pessoas na rua, leia direito o que elas pensam, sinta o
desprezo que os alagoanos de bem sentem por você e seu comportamento
desonesto e mentiroso. Hoje perguntado, o povo fecharia o Congresso. Por
causa de gente como você!
Por favor, divulgue esta minha carta para o Brasil inteiro, para ver se o Congresso cria vergonha na cara.
Os alagoanos agradecem.
TEREZA COLLOR
Fonte: Jornal Extra
Nota da Redação: Há controvérsias de que a autoria da carta seja
realmente de Thereza Collor. Parece que um jornalista e ex-deputado, já
falecido, Mendonça Neto, que se tornou adversário político de Renan
Calheiros, foi o verdadeiro autor do texto. De qualquer forma, não há
dúvida quanto a veracidade do conteúdo.
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