segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

COMO FUNCIONARIA UMA SOCIEDADE SEM ESTADO - FINAL

COMO FUNCIONARIA UMA SOCIEDADE SEM ESTADO ?
Parte III FINAL - Hans Hermann Hoppe - Publicado por Instituto Ludwig von Mises Brasil

Ø Como, em um mundo sem a ordem do estado, poderíamos impedir a violação de direitos elementares à liberdade, como o direito à integridade física?

Por acaso tais violações são atualmente impedidas pela existência do estado?  Como está a violência em países que têm um estado grande e onipresente, como os da América Latina?
Enquanto os humanos forem humanos, sempre existirão áreas em que haverá homicídios e assaltos.  Os governos conseguiram melhorar esta situação?  Governos também são geridos por humanos.  Porém, ao contrário de uma sociedade sem estado, os líderes detêm um monopólio sobre sua posição de poder.
Isso por acaso não torna estas pessoas piores do que já são?  Humanos não são anjos; frequentemente fazem maldades e causam enormes estragos.  Por este motivo, a melhor defesa da liberdade e da propriedade é não permitir que ninguém crie um monopólio protegido por lei.  Tão logo exista um monopólio protegido por lei, não serão exatamente seres angelicais que surgirão dele.

Ø Suponhamos que sigamos suas ideias e transfiramos as clássicas funções do estado, como a proteção da propriedade e da imposição da justiça, para organizações privadas.  Imediatamente teríamos de lidar com o problema de que, também nestas organizações, os homens maus podem assumir o comando e criar cartéis à custa dos cidadãos.

O risco de isso ocorrer é baixo.  Cartéis só conseguem sobreviver no longo prazo se o estado protegê-los.  Isso ocorre hoje justamente em todos os setores da economia que são controlados por agências reguladoras, as quais existem para impedir que novas empresas entrem no mercado, façam concorrência e perturbem a tranqüilidade das já estabelecidas e que são as preferidas do estado.
Cartéis nunca se sustentaram no livre mercado.  O que tradicionalmente sempre ocorreu foi o seguinte: as grandes empresas começaram a se unir para dividir o mercado exclusivamente entre elas; no entanto, tal arranjo, para elevar os preços e reduzir a qualidade dos serviços, acaba beneficiando os membros mais ineficientes, prejudicando os mais eficientes. 
Ø Mas até que isso ocorra, os membros do cartel exploram os cidadãos.

Esse seu raciocínio é o que eu chamo de “se suicidar por medo de morrer”.  Se você transfere tal tarefa ao estado, então você está dando a ele logo de partida um monopólio total.  E ele certamente irá abusar deste monopólio para restringir a liberdade dos cidadãos.

Ø Em uma sociedade sem estado e com leis privadas, como lidar com o problema das externalidades?  Quem iria fazer com que poluidores tivessem de arcar com os custos?

Esse problema é fácil de ser resolvido.  Basta você conferir à parte prejudicada o direito de tomar medidas judiciais contra o agressor.  Ato contínuo, ela poderá processar o causador do estrago, fazendo com que esta lhe dê um pagamento indenizatório.  No século XIX, era uma prática comum os cidadãos processarem empresas que danificassem sua propriedade em decorrência de poluição.  Com o tempo, o estado começou a limitar o direito de apelação, tudo com o intuito de proteger determinadas indústrias.
Por isso, e como expliquei anteriormente, é crucial que os direitos de propriedade sejam claramente atribuídos.  O princípio básico tem de ser: quem for o primeiro a se apropriar de um local ainda inutilizado e sem dono, adquire os direitos de propriedade.
Por exemplo, se uma indústria construir uma planta que apresente uma intensa emissão de poluentes nas vizinhanças de um determinado bairro residencial, então estes moradores — que chegaram lá primeiro — podem processar a empresa e pedir indenização.  Trata-se de um princípio simples que até mesmo crianças conseguem entender.  Nos EUA, durante a época da corrida do ouro, vários critérios foram estabelecidos sem a intromissão do estado.  E várias pessoas registraram suas queixas contra mineradores.  Isso mostra que questões de transgressão de propriedade podem ser resolvidas sem o estado.

Ø E a questão das forças armadas?  Não dá para organizar a defesa nacional sem o estado, e ninguém pode ser excluído da segurança fornecida por um exército.  Logo, você precisa do estado para obrigar todos os cidadãos a pagarem impostos para financiar as forças armadas.

E quem disse que absolutamente todos os cidadãos querem ser defendidos por um exército?  De novo, vivemos em um mundo de escassez.  O dinheiro que for gasto com defesa não mais estará disponível para ser gasto em outros propósitos.  Algumas pessoas talvez não queiram ser defendidas e, em vez disso, preferem pagar por férias no Havaí.  No caso de um ataque externo, elas provavelmente iriam optar por deixar o país e, sendo assim, elas não precisam de defesa de nenhum exército.
O estado não tem nenhum direito de obrigar estas pessoas a pagar impostos para financiar forças armadas.  Em uma sociedade sem estado, as pessoas podem, se assim o desejarem, criar pequenas unidades de segurança, como vigilâncias comunitárias.  Podem também se defender por conta própria por meio do uso de armas.  Ou podem ainda contratar segurança privada.  Elas teriam a liberdade de decidir livremente como iriam gastar seu próprio dinheiro.

Sobre o autor: Hans-Hermann Hoppe é um membro sênior do Ludwig von Mises Institute, fundador e presidente da Property and Freedom Society e co-editor do periódico Review of Austrian Economics. Ele recebeu seu Ph.D e fez seu pós-doutorado na Goethe University em Frankfurt, Alemanha. Ele é o autor, entre outros trabalhos, de Uma Teoria sobre Socialismo e Capitalismo e The Economics and Ethics of Private Property.







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