sexta-feira, 5 de outubro de 2018

BRASIL DE COTURNOS


UM BRASIL DE COTURNOS? 
       Coturno é um calçado voltado para o uso militar em atividades de combate. Geralmente é feito de couro tratado de maneira especial para tornar-se impermeável. O objetivo do coturno é oferecer ao combatente uma combinação de atrito com o solo (evitando escorregões), estabilidade do tornozelo (evitando torções) e proteção para os pés. Também são classificados como equipamento de proteção individual.
       A atual campanha política, polarizada, coloca o eleitor em grande dúvida, ao ter que optar entre o COTURNO e o CHINELO HAVAIANA.
O coturno, todos sabem, é usado para amassar, espezinhar, triturar, humilhar. Que o digam os representantes maiores do pelotão, todos prontos para a ordem unida. O sargento, com voz implacável, está prestes a ordenar: pelotão, sentido! Ordinário...
A ordem unida ainda nem começou e o sargentão já chamou todo mundo de ordinário! O que acontecerá quando o pelotão for apresentado ao comandante? Será que vai comandar: “fora de forma, marche?”
Não se duvida que isso venha a acontecer, pois o candidato a comandante ainda não produziu outra voz de comando que desse esperanças de chegar em tempo à hora do rancho. Até agora só saíram impropérios, bobagens e ameaças.
Ou o pelotão calça sapatos de pelica ou teremos deserções em massa e, aí sim, nos transformaremos numa Venezuela de verde e amarelo. E não há outra opção plausível pois qualquer alternativa coloca o eleitor de pés descalços.

UM BRASIL MAINSTREAM?
       Coturnos também são populares como vestimenta nas subculturas do gótico, punk, grunge, heavy metal, skinhead, entre outras. Estão se tornando cada vez mais uma corrente dominante na qual o pensamento é mais comum no contexto de determinada cultura. Nessas subculturas, a corrente dominante é a popular e a cultura de massas. O termo “mainstream” é por vezes utilizado de forma pejorativa pelas outras culturas que se consideram a corrente dominante e “exclusiva”.
       É aí que mora o perigo. Perigo de os coturnos “mainstream” serem substituídos pelos convencionais que só sabem marchar na batida do “esquerdo, direito; esquerdo, direito; um, dois; um, dois. Caso isto venha acontecer, adeus gótico, punk, grunge, heavy metal, skinhead, etc. Adeus. Vamos todos marchar na mesma batida.
RISCOS DA MILITARIZAÇÃO
       O Estado Brasileiro vem impulsionando um amplo processo de militarização da sociedade, que tem como foco central as periferias e favelas, mas que também se materializa no contexto de protestos sociais. No primeiro caso, destaca-se a intervenção federal em curso no Rio de Janeiro, mas, antes dela, outras operações foram realizadas nas favelas da cidade com base na Garantia da Lei e da Ordem.
A justificativa de “restabelecer a ordem”, não apresenta resultados concretos, de modo que foram registrados números muito mais alarmantes de violações do que resultados positivos desde que a intervenção está em voga.
No caso dos protestos, este tipo de processo de militarização pôde ser observado durante a greve dos caminhoneiros em 2018 e durante protestos na Esplanada dos Ministérios em 2017.
Considera-se como agravante todas as violações que vão para além da liberdade de se expressar, mas também de circular, viver e existir dentro de um contexto militarizado pelo Estado, como o contexto das periferias e favelas submetidas a ocupação do exército.
Por tudo isso, é de se enfatizar a importância afastar os coturnos do seio da sociedade brasileira, de garantir o direito da livre manifestação a toda e qualquer pessoa, de modo que o Estado brasileiro passe a adotar medidas concretas e abrangentes para combater o cenário de violações contra a população, e não agir com repressão pelo ato de se expressar.

O PERIGO DO FASCISMO
Ao contrário do período ditatorial, quando o Estado monopolizava a repressão contra qualquer força rebelde, desta vez a violência se reapresenta principalmente como fenômeno paramilitar.
Grupos vinculados à ultradireita passam a agir como braço armado do ódio contra as correntes progressistas e democráticas, tentando intimidá-las.
Não se trata de novidade. O recurso à violência é um dos traços típicos do fascismo. Na ascensão de Mussolini e de Hitler, por exemplo, o papel dos camisas negras e pardas foi essencial em três planos: a atemorização dos adversários, a mobilização de hordas antissistema e a construção de autoridade militar.
Essas falanges, no entanto, só puderam avançar quando as elites as convocaram para o serviço sujo.
Durante quase três décadas, a franja fascista da sociedade brasileira sentia-se aprisionada e se comportava de forma constrangida. Suas opiniões reacionárias, racistas e discriminatórias eram motivo de vergonha. Disfarçava-se de algo mais ameno e palatável. A direita se escondia sob diversas máscaras, do liberalismo à social-democracia, fugindo de sua identidade secular.
O bolsonarismo não brotou do asfalto ou de talentos do seu líder. Saiu do armário e ganhou as ruas pelas mãos do PSDB e de seus aliados, de parte dos meios de comunicação, de setores do sistema de Justiça, de frações das Forças Armadas e de segmentos expressivos do empresariado.
Os seguidores do ex-capitão se constituem na tropa de choque do bloco que tomou o governo de assalto. São a vanguarda mais ativa dos pratos e panelas que serviram como banda de música da ruptura constitucional.
A emergência do neofascismo exige combate firme e unitário, até que seja obrigado a retornar para a jaula da qual foi libertado. Mas essa batalha, fundamental para a reconstrução da democracia brasileira, jamais será vitoriosa se não forem derrotados também aqueles que abriram o cadeado.

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