quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

694 - OS DESVALIDOS


OPINIÃO – JAIME CAPRA 

DESVALIDOS DE ONTEM
Um texto articulado por Ana Fraiman, Mestre em Psicologia Social pela USP, nos faz pensar e repensar. Em 1980, o maior agrupamento populacional por idade, situava-se na faixa de 0 a 10 anos. Em 2015, na faixa de 25 a 36 anos e, em 2050, a maior concentração populacional estará na faixa entre os 45 e 70 anos de idade.
Nesses últimos tempos surgiu uma geração de pais sem filhos presentes, por força de uma cultura de independência e autonomia levada ao extremo, que impacta negativamente no modo de vida de toda a família. A ordem era essa: em busca de melhores oportunidades, vinham para as cidades os filhos mais crescidos, que logo traziam seus irmãos e logo vinham também os pais. 
       A evasão dos mais jovens em busca da sobrevivência, sempre ocorreu. Trabalho, estudos, a seca e a fome, pressionaram os jovens a abandonarem o lar paterno.

DESVALIDOS DE HOJE
Assim como os pais deixavam e ainda deixam seus filhos para buscar melhores condições de sobrevivência, houve filhos que deixaram seus pais para buscar de melhores condições de vida, de trabalho e estudos.
Em geral, porém, isso não é percebido como abandono emocional. Não há descaso nem esquecimento. Os filhos que partem e partiam, também assumiam responsabilidades de ampará-los e aos irmãos mais jovens. Assim, nasceu uma geração de ‘pais órfãos de filhos. Pais órfãos que não se negam a prestar ajuda. Pais mais velhos que sustentam os netos nas escolas e pagam viagens de estudo fora do país. Pais que cedem seus créditos consignados para filhos contraírem dívidas em seus nomes, que lhes antecipam herança. Mas que não têm assento à vida familiar dos mais jovens, na suposição de que seus pais se bastam.


DIFICULDADE PARA PERCEBER
Sob a ótica dos relacionamentos afetivos e compromissos existenciais, todos tem medo de confessar o quanto o outro faz falta, como se isso fosse fraqueza. Montou-se assim uma enorme armadilha existencial, como se ninguém mais precisasse de ninguém. A família numerosa é ameaçadora para o conforto, segurança e bem-estar. Pais longevos não são mais tolerados, pois custam muito caro financeira, material e psicologicamente. 
Disto, sobreveio a solidão e o medo permanente, que transformou as relações humanas em transações comerciais.  
Sobrevieram a solidão e o medo permanente que impregnam a cultura utilitarista, que transformou as relações humanas em transações comerciais. Pais em desespero tentam comprar o amor dos filhos. Mas, carinho de filho não se compra assim como ausência de pai e mãe não se compensa.
Tudo isso tem um custo altíssimo: a dificuldade de reconhecer limites característicos do envelhecimento. Este é o modelo que se pode identificar. A questão é que as dores são mascaradas, profundas e bem alimentadas pelas novas tecnologias, nas quais todas as gerações estão envolvidas pelo desejo de viver fortes emoções e correr riscos. 
Na vida dos mais velhos, alguns dos limites físicos e mentais vão se instalando e vão mudando com a idade. Desobrigados que foram de serem solidários aos seus pais, os filhos adultos como que se habituaram a não prestarem atenção às necessidades de seus pais, conforme envelhecem. Mantêm expectativas irrealistas e não têm ideia do que é ter lutado toda uma vida para se auto afirmar, para depois passar a viver com dependências e dar de frente com a grande dor da exclusão social, a começar pela perda dos postos de trabalho e, a continuar, pela enxurrada de preconceitos que se abatem sobre os idosos, nas sociedades profundamente preconceituosas e fóbicas em relação à morte e à velhice.

 



LICENÇA PARA MATAR
       O pacote de medidas para a justiça e segurança pública apresentado por Sergio Moro, institui uma verdadeira “Lei do Abate”. O projeto que prevê a prisão após condenação em segunda instância e a criminalização do caixa 2, recebeu diversas críticas e ironias por parte de especialistas, lideranças e representantes da sociedade civil.
       A proposta que ainda não foi encaminhada ao Congresso Nacional, altera 14 leis, o Código Eleitoral, e talvez a Bíblia Sagrada. Segundo o ministério, a intenção é combater a corrupção, os crimes violentos e as facções criminosas.
       Um dos pontos mais criticados é a radicalização do princípio da legítima defesa previsto no Código Penal, onde o governo pretende legitimar os homicídios cometidos por policiais em serviço. De janeiro de 1998 a janeiro de 2018, 13,5 mil suspeitos morreram em confrontos com a polícia no Rio de Janeiro. O texto do anteprojeto prevê que um agente policial que agiu em legítima defesa poderá ter uma eventual condenação reduzida à metade ou não aplicada se o excesso cometido decorrer de escusável medo, surpresa ou violenta emoção. Belo Gesto!

BOLSONARISMO
       A investigação do caso Fabrício Queiroz, testa de ferro do senador Flavio Bolsonaro, caiu no colo do promotor Claudio Calo, mas deve mudar de mãos. Em suas postagens nas redes sociais, o promotor se mostra um bolsonarista entusiasmado. Entre os desconfortos gerados, está uma série de tuítes em que ele responde questionamentos sobre o caso.
      Mas não só. Calo retuitou Carlos Bolsonaro num post em que o rapaz, para não variar, ataca a imprensa. O filho O2 não gosta da “catchiguria”. Creio que, quando bebê, o pai o ninava cantando: “Nana, nenê, que o jornalista vem pegar…” E aí ele ficou assim. Quando está desocupado, ataca a imprensa.

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