OPINIÃO –
JAIME CAPRA
DESVALIDOS DE ONTEM
Um
texto articulado por Ana Fraiman, Mestre em Psicologia Social pela USP, nos faz
pensar e repensar. Em 1980, o maior agrupamento populacional por idade,
situava-se na faixa de 0 a 10 anos. Em 2015, na faixa de 25 a 36 anos e, em
2050, a maior concentração populacional estará na faixa entre os 45 e 70 anos
de idade.
Nesses
últimos tempos surgiu uma geração de pais sem filhos presentes, por força de
uma cultura de independência e autonomia levada ao extremo, que impacta
negativamente no modo de vida de toda a família. A ordem era essa: em busca de
melhores oportunidades, vinham para as cidades os filhos mais crescidos, que
logo traziam seus irmãos e logo vinham também os pais.
A
evasão dos mais jovens em busca da sobrevivência, sempre ocorreu. Trabalho,
estudos, a seca e a fome, pressionaram os jovens a abandonarem o lar paterno.
DESVALIDOS DE HOJE
Assim
como os pais deixavam e ainda deixam seus filhos para buscar melhores condições
de sobrevivência, houve filhos que deixaram seus pais para buscar de melhores
condições de vida, de trabalho e estudos.
Em
geral, porém, isso não é percebido como abandono emocional. Não há descaso nem
esquecimento. Os filhos que partem e partiam, também assumiam responsabilidades
de ampará-los e aos irmãos mais jovens. Assim, nasceu uma geração de ‘pais
órfãos de filhos. Pais órfãos que não se negam a prestar ajuda. Pais mais
velhos que sustentam os netos nas escolas e pagam viagens de estudo fora do
país. Pais que cedem seus créditos consignados para filhos contraírem dívidas
em seus nomes, que lhes antecipam herança. Mas que não têm assento à vida
familiar dos mais jovens, na suposição de que seus pais se bastam.
DIFICULDADE PARA PERCEBER
Sob
a ótica dos relacionamentos afetivos e compromissos existenciais, todos tem
medo de confessar o quanto o outro faz falta, como se isso fosse fraqueza.
Montou-se assim uma enorme armadilha existencial, como se ninguém mais
precisasse de ninguém. A família numerosa é ameaçadora para o conforto,
segurança e bem-estar. Pais longevos não são mais tolerados, pois custam muito
caro financeira, material e psicologicamente.
Disto,
sobreveio a solidão e o medo permanente, que transformou as relações humanas em
transações comerciais.
Sobrevieram
a solidão e o medo permanente que impregnam a cultura utilitarista, que
transformou as relações humanas em transações comerciais. Pais em desespero
tentam comprar o amor dos filhos. Mas, carinho de filho não se compra assim
como ausência de pai e mãe não se compensa.
Tudo
isso tem um custo altíssimo: a dificuldade de reconhecer limites
característicos do envelhecimento. Este é o modelo que se pode identificar. A
questão é que as dores são mascaradas, profundas e bem alimentadas pelas novas
tecnologias, nas quais todas as gerações estão envolvidas pelo desejo de viver
fortes emoções e correr riscos.
Na
vida dos mais velhos, alguns dos limites físicos e mentais vão se instalando e
vão mudando com a idade. Desobrigados que foram de serem solidários aos seus
pais, os filhos adultos como que se habituaram a não prestarem atenção às
necessidades de seus pais, conforme envelhecem. Mantêm expectativas irrealistas
e não têm ideia do que é ter lutado toda uma vida para se auto afirmar, para
depois passar a viver com dependências e dar de frente com a grande dor da
exclusão social, a começar pela perda dos postos de trabalho e, a continuar,
pela enxurrada de preconceitos que se abatem sobre os idosos, nas sociedades
profundamente preconceituosas e fóbicas em relação à morte e à velhice.
LICENÇA
PARA MATAR
O
pacote de medidas para a justiça e segurança pública apresentado por Sergio
Moro, institui uma verdadeira “Lei do Abate”. O projeto que prevê a prisão após
condenação em segunda instância e a criminalização do caixa 2, recebeu diversas
críticas e ironias por parte de especialistas, lideranças e representantes da
sociedade civil.
A
proposta que ainda não foi encaminhada ao Congresso Nacional, altera 14 leis, o
Código Eleitoral, e talvez a Bíblia Sagrada. Segundo o ministério, a intenção é
combater a corrupção, os crimes violentos e as facções criminosas.
Um dos
pontos mais criticados é a radicalização do princípio da legítima defesa
previsto no Código Penal, onde o governo pretende legitimar os homicídios
cometidos por policiais em serviço. De janeiro de 1998 a janeiro de 2018, 13,5
mil suspeitos morreram em confrontos com a polícia no Rio de Janeiro. O texto
do anteprojeto prevê que um agente policial que agiu em legítima defesa poderá
ter uma eventual condenação reduzida à metade ou não aplicada se o excesso
cometido decorrer de escusável medo, surpresa ou violenta emoção. Belo Gesto!
BOLSONARISMO
A investigação do caso Fabrício Queiroz,
testa de ferro do senador Flavio Bolsonaro, caiu no colo do promotor Claudio
Calo, mas deve mudar de mãos. Em suas postagens nas redes sociais, o promotor
se mostra um bolsonarista entusiasmado. Entre os desconfortos gerados, está uma
série de tuítes em que ele responde questionamentos sobre o caso.
Mas não só. Calo
retuitou Carlos Bolsonaro num post em que o rapaz, para não variar, ataca a
imprensa. O filho O2 não gosta da “catchiguria”. Creio que, quando bebê, o pai
o ninava cantando: “Nana, nenê, que o jornalista vem pegar…” E aí ele ficou
assim. Quando está desocupado, ataca a imprensa.
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