A MIUDINHA PEGOU
Após um incêndio no alojamento da Comissão de Desportos
da Aeronáutica, no Rio de Janeiro, dois jogadores do Bangu e um soldado
acabaram hospitalizados. O estado das vítimas não preocupa.
Mas sempre há algo que preocupa: é esse tipo de acontecimento.
Ainda mais quando envolve uma instalação militar, já que é comum se achar que
os militares estão acima de qualquer suspeita. Aliás, o que não está acima de
suspeita é essa mania brasileira de fazer tudo na base do afogadilho,
transformando um paiol em hotel cinco estrelas da noite para o dia.
JOGO DE EMPURRA
Diz a notícia de última hora que o Flamengo e Defensoria Pública
vão negociar para agilizar as indenizações às famílias das vítimas do “pequeno
incidente” ocorrido no centro de treinamento do glorioso Flamengo, também no
Rio de Janeiro.
Marilia, mãe de Arthur Vinicius, jogador morto no incêndio,
a direção do Flamengo e autoridades municipais e estaduais se reuniram na sede
do Ministério Público do Rio de Janeiro, onde ficou acordado que a defensoria
ajudará o clube a indenizar os familiares das dez vítimas do incêndio no CT
Ninho do Urubu. O Rubro-negro arca com custos de traslados, hospedagens e
acolhimento psicológico a familiares e sobreviventes.
Já começou o empurra-empurra. O desfecho da dita conversa
já é previsto. O Flamengo, estrela brasileira do futebol, vai sair de fininho,
pagando as despesas, A defensoria pública, que a esta altura está mais para
privada, não terá coragem de executar o clube querido do Brasil. O estado do
Rio de Janeiro e a prefeitura, estão mais quebrados que arroz de segunda e vão
dar uma de João sem braço e jogar a culpa no funcionário da limpeza. Amanhã ou
depois, todos os familiares dos mortos estarão na arquibancada do Maracanã
gritando: Mengo... Mengo... E assim caminha a humanidade.
MAS NÃO É TUDO!
Depois de uma reunião com o Flamengo, o Ministério Público
do Rio de Janeiro (cheio de moral quanto o estado que lhe empresta o nome) determinou
a execução de uma perícia no Ninho do Urubu, em parceria com o Ministério
Público do Trabalho e o Corpo de Bombeiros. A partir desta análise sairá a
decisão sobre interditar ou não o Centro de Treinamentos do clube rubro-negro.
Em rápido pronunciamento feito após a reunião, o presidente do Flamengo se
comprometeu a dar suporte às autoridades durante a perícia. Imagina que com
essa conversa mole, ambos os ministérios públicos que também estão para
privadas, aliviem a barra do Flamengo.
PARA QUASE COMPLETAR
Mais um acidente com vítimas. Um
helicóptero caiu sobre um caminhão na grande São Paulo, vitimando o piloto do
aparelho e o jornalista Ricardo Boechat. As vítimas ainda estavam quentes
quando as autoridades vieram a público dizer que a empresa proprietária do
aparelho não tinha autorização para transportar passageiros.
A gloriosa ANAC – Agência Nacional da
Aviação Civil, sempre expedita nas explicações, veio rapidamente a público para
dizer que a empresa tinha autorização para serviços aéreos de fotogrametria e
correlatos, mas não poderia transportar passageiros como taxi aéreo.
O engraçado disso tudo é que o aparelho
deve ter decolado de algum heliporto, que em tese deve estar sob a supervisão
da ANAC. Logo, esta teria que fornecer autorização para a decolagem. Se
forneceu, não está isenta de culpa. Assim, nada justifica a falta de
autorização. Houve sim falta de fiscalização, como em todos os acidentes. E a
fiscalização, é atribuição do governo, ou estou enganado?
Para completar, a fiscalização
governamental só é expedita quando se trata de fiscalizar o pagamento de
impostos. Menos o que ele próprio, governo, deve, assim tipo previdência
social, e os devidos por grandes empresas. Se o devedor do sagrado imposto for
o Zé das couves da feira livre de São Miguel do Oeste, estará literalmente
ferrado. Ou será que novamente estou errado?
DE MARIANA A BRUMADINHO
A estratégia
enrolacionista para safar as mineradoras e jogar a responsabilidade nas costas
dos engenheiros e técnicos em segurança de barragens, está em curso. O
Ministério Público (que para mim é mais privado que uma privada) está igual a
jogo de bilboquê por quem não sabe jogar (joga para cima e para baixo e não
encaixa uma), mas a sorte está selada. As mineradoras estarão isentas de
responsabilidade, que será colocada na garupa de técnicos em segurança, engenheiros,
e se facilitar vai sobrar até para os topógrafos.
A pedra já foi cantada pelo Generalíssimo da
reserva remunerada Hamilton Mourão, digníssimo vice-presidente da República
Federativa do Brasil, logo após, senão no mesmo dia do rompimento da Barragem:
“a culpa pelo desastre, não é da empresa, mas das pessoas” disse solenemente.
Ao melhor estilo capitalista de araque, só
não pronunciou, mas decerto pensou: “que se vão os dedos, mas salvemos os anéis”!
Ou por outra: “que se f... o povo morto, desaparecido e flagelado, mas salvemos
as empresas”! Temos que manter o fornecimento de minério e carne para a China e
Japão pois, afinal, eles nos vendem quinquilharias e nos deixam grandes
estoques de rejeitos e esterco!
Isso me lembra a guerra da lagosta, entre
Brasil e França, de 1961 a 1963, quando pescadores Franceses vinham capturar
lagostas na costa de Pernambuco. Juca Chaves, exímio parodista, compôs uma
música que se chamou “O caso da Lagosta” que falava do brasileiro que só pensava
em viver no litoral para pescar lagosta “porque na França todo mundo gosta...”
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