sexta-feira, 1 de março de 2019

697 UTILITARISMO


PREFERÊNCIAS OU UTILITARISMO?

      Utilitarismo é uma teoria filosófica que busca entender os fundamentos da ética e da moral a partir das consequências das ações. Consiste na ideia de que uma ação só pode ser considerada moralmente correta se as suas consequências promoverem o bem-estar coletivo.

Assim, a partir deste raciocínio, o utilitarismo se apresenta oposto ao egoísmo, pois as consequências das ações devem resultar na felicidade de um conjunto e não de interesses particulares.
Os princípios do pensamento utilitarista são aplicados em diversas áreas da vida em sociedade, como no sistema político, na justiça, na economia e também nas leis
Os principais princípios utilitaristas são o bem-estar, onde o objetivo da ação moral deve ser o bem-estar nos níveis intelectual, físico e moral; o consequencialismo, onde a moralidade das ações é julgada pelas consequências que gera; a agregação, que leva em consideração a maioria dos indivíduos, descartando as minorias que não se beneficiam; a otimização, onde a maximização do bem-estar é interpretada como um dever, e a imparcialidade e universalismo, que não prevê distinção entre o sofrimento ou felicidade dos indivíduos, sendo todos iguais perante o utilitarismo.
      Existem diversas linhas de pensamento do utilitarismo. O conceito do Imperativo Categórico, que questiona a capacidade de não estar ligado a uma atitude egoísta, pois todas as ações e consequências geradas estariam dependentes de inclinações pessoais.

EXEMPLO PRÁTICO
Pesquisa sobre avaliação do governo Bolsonaro, realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), aponta que 39% dos pesquisados tem avaliação positiva da gestão desse governo.
A título de comparação, a pesquisa em início de mandato de Dilma no primeiro governo teve 49% de avaliação positiva. Já os primeiros e segundos governos Lula tiveram 57% e 50%, respectivamente, de avaliação positiva.
A avaliação de início de gestão de Bolsonaro é melhor apenas do que a de Michel Temer, que foi de 11%.  
Na avaliação pessoal do presidente Bolsonaro, 57,5% dos entrevistados a ELE, Jair Bolsonaro e não seu governo, a quem atribuíram tão somente 39%.
Os 57% que aprovaram o Bolsonaro pessoalmente e não a seu governo, o fizeram porque lhe deram o voto e ficariam constrangidos em deixar visível seu arrependimento. No entanto, o arrependimento surge quando apenas 39% dos entrevistados aprovam seu governo. Eis aí o efeito não “utilitarista” como consequência da ação pelo voto mal dado, que segrega a maioria do povo brasileiro privilegiando uma minoria, conforme os sinais que emanam de Brasília.
Sem conhecimento teórico, as conversas das rua deixam isso bem claro. As pessoas estão insatisfeitas com o desempenho do atual governo. Esperam o pior daqui para frente. Nada se pode esperar em termos de aplicação da teoria do “utilitarismo”. Pode-se esperar, isso sim, o recrudescimento do “inutilitarismo”.  


OUTRO EXEMPLO
As audiências públicas tornaram-se moda. Isso me lembra um velho chavão, outrora utilizado para caracterizar o Partido dos Trabalhadores: “quando não se conhece o problema nem as possíveis soluções, convoca-se uma reunião”!
As audiências públicas servem somente para confirmar o utilitarismo, tema central dessa coluna.
No formato atual, nada mais produzem senão colocar frente a frente interesses pessoais ou de grupos, visando obtenção de chicanas para burlar a lei ou para neutralizar interesses difusos da população envolvida.
Nesse sentido, a questão do “utilitarismo” deveria ser o primeiro passo para avaliar a real necessidade de tais audiências ou, pelo menos, utilizar o material disponível para estabelecer um regramento capaz de disciplinar a utilização das consultas públicas, que no atual formato se restringem a grupos de interesses.
O poder público e TODOS seus sucedâneos, incapaz de tomar decisões com base no ordenamento legal, usa e abusa de tal expediente para jogar aos leigos a responsabilidade de defesa de interesses difusos. Estes, por seu turno, acabam por render-se à articulação privada e sorrateira.
Foi assim num passado recente, quando da alteração do Plano Diretor, onde o quociente de construção civil foi brutalmente alterado para permitir “arranha céus”. As consequências foram o colapso no sistema de trânsito, o destino dos efluentes, o comprometimento do abastecimento de água e energia que não tardaram a aparecer, para transformar uma pacata cidade horizontal em vertical para enquadrá-la nas grandes metrópoles.
A solução para o colapso no sistema de trânsito foi irresponsavelmente atribuída a uma empresa com discutível capacitação, e em seguida jogada no colo da comunidade leiga para tomada das difíceis decisões. Prevaleceu a atual confusão, a ponto de a todo momento remendar o que foi mal feito e colocar os influenciadores em situação ridícula, de saia justa, considerando os péssimos efeitos das decisões.

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