PREFERÊNCIAS OU UTILITARISMO?
Utilitarismo é uma teoria filosófica que
busca entender os fundamentos da ética e da moral a partir das consequências
das ações. Consiste na ideia de que uma ação só pode ser considerada
moralmente correta se as suas consequências promoverem o bem-estar coletivo.
Assim, a partir
deste raciocínio, o utilitarismo se apresenta oposto ao egoísmo, pois as
consequências das ações devem resultar na felicidade de um conjunto e não de
interesses particulares.
Os princípios do
pensamento utilitarista são aplicados em diversas áreas da vida em sociedade,
como no sistema político, na justiça, na economia e também nas leis
Os principais
princípios utilitaristas são o bem-estar,
onde o objetivo da ação moral deve ser o bem-estar nos níveis intelectual,
físico e moral; o consequencialismo,
onde a moralidade das ações é julgada pelas consequências que gera; a
agregação, que leva em
consideração a maioria dos indivíduos, descartando as minorias que não se
beneficiam; a otimização, onde a
maximização do bem-estar é interpretada como um dever, e a imparcialidade e universalismo, que não
prevê distinção entre o sofrimento ou felicidade dos indivíduos, sendo todos
iguais perante o utilitarismo.
Existem
diversas linhas de pensamento do utilitarismo. O conceito do Imperativo Categórico,
que questiona a capacidade de não estar ligado a uma atitude egoísta, pois
todas as ações e consequências geradas estariam dependentes de inclinações
pessoais.
EXEMPLO PRÁTICO
Pesquisa sobre
avaliação do governo Bolsonaro, realizada pela Confederação Nacional do
Transporte (CNT), aponta que 39% dos pesquisados tem avaliação positiva da
gestão desse governo.
A título de
comparação, a pesquisa em início de mandato de Dilma no primeiro governo teve
49% de avaliação positiva. Já os primeiros e segundos governos Lula tiveram 57%
e 50%, respectivamente, de avaliação positiva.
A avaliação de
início de gestão de Bolsonaro é melhor apenas do que a de Michel Temer, que foi
de 11%.
Na avaliação
pessoal do presidente Bolsonaro, 57,5% dos entrevistados a ELE, Jair Bolsonaro
e não seu governo, a quem atribuíram tão somente 39%.
Os 57% que
aprovaram o Bolsonaro pessoalmente e não a seu governo, o fizeram porque lhe
deram o voto e ficariam constrangidos em deixar visível seu arrependimento. No
entanto, o arrependimento surge quando apenas 39% dos entrevistados aprovam seu
governo. Eis aí o efeito não “utilitarista” como consequência da ação pelo voto
mal dado, que segrega a maioria do povo brasileiro privilegiando uma minoria,
conforme os sinais que emanam de Brasília.
Sem conhecimento
teórico, as conversas das rua deixam isso bem claro. As pessoas estão
insatisfeitas com o desempenho do atual governo. Esperam o pior daqui para
frente. Nada se pode esperar em termos de aplicação da teoria do
“utilitarismo”. Pode-se esperar, isso sim, o recrudescimento do
“inutilitarismo”.
OUTRO EXEMPLO
As audiências
públicas tornaram-se moda. Isso me lembra um velho chavão, outrora utilizado
para caracterizar o Partido dos Trabalhadores: “quando não se conhece o
problema nem as possíveis soluções, convoca-se uma reunião”!
As audiências
públicas servem somente para confirmar o utilitarismo, tema central dessa
coluna.
No formato
atual, nada mais produzem senão colocar frente a frente interesses pessoais ou
de grupos, visando obtenção de chicanas para burlar a lei ou para neutralizar
interesses difusos da população envolvida.
Nesse sentido, a
questão do “utilitarismo” deveria ser o primeiro passo para avaliar a real
necessidade de tais audiências ou, pelo menos, utilizar o material disponível para
estabelecer um regramento capaz de disciplinar a utilização das consultas
públicas, que no atual formato se restringem a grupos de interesses.
O poder público
e TODOS seus sucedâneos, incapaz de tomar decisões com base no ordenamento legal,
usa e abusa de tal expediente para jogar aos leigos a responsabilidade de
defesa de interesses difusos. Estes, por seu turno, acabam por render-se à
articulação privada e sorrateira.
Foi assim num
passado recente, quando da alteração do Plano Diretor, onde o quociente de
construção civil foi brutalmente alterado para permitir “arranha céus”. As consequências
foram o colapso no sistema de trânsito, o destino dos efluentes, o
comprometimento do abastecimento de água e energia que não tardaram a aparecer,
para transformar uma pacata cidade horizontal em vertical para enquadrá-la nas
grandes metrópoles.
A solução para o
colapso no sistema de trânsito foi irresponsavelmente atribuída a uma empresa
com discutível capacitação, e em seguida jogada no colo da comunidade leiga
para tomada das difíceis decisões. Prevaleceu a atual confusão, a ponto de a
todo momento remendar o que foi mal feito e colocar os influenciadores em
situação ridícula, de saia justa, considerando os péssimos efeitos das
decisões.
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