sexta-feira, 29 de maio de 2020

EMPRESÁRIOS ACOVARDADOS - 29.05.2020


EMPRESÁRIOS SABEM QUE NÃO HÁ SAÍDA PARA BOLSONARO MAS ESTÃO ACOVARDADOS - 754 - 29.05.2020

Publicado por  Moisés Mendes em 29 de maio de 2020
     Se o Brasil não tivesse se transformado num país de acovardados, que assistiu à ascensão do fascismo sem nenhuma reação política articulada, as agressões da família Bolsonaro contra o Supremo seriam encerradas nos próximos dias. Não passariam de maio.
Mas isso só aconteceria se o Brasil tivesse entidades liberais fortes, conservadoras mas vigorosas, e não arremedos de organizações empresariais e assemelhadas, quase todas golpistas.
O empresariado brasileiro (muito bem sentado no esquema mafioso de patrocínios de Fake News) não é apenas caroneiro do fascismo, é seu sócio e seu aliado político.
Há muito tempo esvaiu-se a dúvida em torno do caráter do apoio que o capitalismo brasileiro dá aos Bolsonaros. Não só o ‘capitalismo’ agrário e arcaico, mas o capitalismo da Avenida Paulista.
Fomentou-se como diversão a falsa dúvida sobre a ambição pragmática do empresariado pós-golpe de agosto de 2016.
Se estavam apenas tirando proveito da situação, para que Paulo Guedes conduzisse as reformas em paz, ou se a índole desse capitalismo era mesmo antidemocrático.
Vai sendo provado que o caráter dos empreendedores nacionais, de todos os calibres, é mais do que conservador, mais do que reacionário, é entreguista, negacionista, imediatista, oportunista.
Pegue-se um pensador da direita, e não alguém de esquerda, que seria logo desqualificado pelo empresariado, que reflita sobre a adesão do empresariado à extrema direita.
Pegue-se o que diz Demétrio Magnoli, que pergunta há muito tempo, a partir da situação que vivemos, se é verdade que, para ser liberal, o capitalismo brasileiro precisa suprimir a democracia e cortejar desmandos?
Mas como ser cúmplice de um Bolsonaro, se nos iludiram com a ideia de que, na doutrina liberal, a liberdade política é inseparável da liberdade econômica? É o que pergunta Magnoli, sempre sem respostas. É tudo bobagem.
Os liberais brasileiros, e aqui não há referência apenas ao sentido econômico, encolheram-se diante do bolsonarismo.
Encaramujaram-se nas suas ‘entidades representativas’, nas instituições das chamadas forças vivas locais e, o que é dramático, nas universidades.
A UFRGS, a nossa mais bem avaliada universidade pública, reduto histórico de resistências, está promovendo debates com a participação de expressões da extrema direita.
Extremistas que conspiram contra as liberdades, incluindo a de expressão, podem frequentar o espaço da universidade pública para falar em nome do direito de ser fascista?
É provável que, em nome do livre pensar, as universidades acolherão um dia nazistas assumidos para troca de ideias sobre a pandemia como possibilidade de eugenia?
O bolsonarismo cooptou sentimentos e interesses, em todas as áreas, muitos com adesões dissimuladas, e aniquilou a possibilidade de reações no setor público. Tudo ficou fácil para a direita.
O enfrentamento das deliberações do Supremo para conter a indústria de fake news e difamações é liderada por um filho de Bolsonaro e por uma militante armamentista da extrema direita. E não há nenhuma manifestação dita liberal, solitária ou em jogral, que se insurja em defesa do Supremo.
Um filho de Bolsonaro, um blogueiro e uma militante de Youtube decidem desafiar a mais alta Corte do país e ninguém mais, fora as esquerdas, a imprensa e as entidades de sempre, como a OAB, ergue a voz. Sim, as exceções são as exceções.
O projeto do liberalismo bolsonarista nem existe mais. Não há
qualquer sinal de funcionalidade do governo. Paulo Guedes sumiu. Mas Bolsonaro e os filhos fingem que governam, com a proteção dos militares.
E os ‘liberais’ acreditam que algo pode ser salvo. Estão mudos, resignados, cagados.
Os empresários fazem o marketing das lutas identitárias. Ganham dinheiro com o marketing ambientalista. Defendem pautas progressistas nos costumes. Mas são covardes para enfrentar Bolsonaro e dizer não à ameaça de golpe.
Eles sabem que não há saída com Bolsonaro, mas estão paralisados pela inércia de décadas de covardia.


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