MUDANÇAS
AS PRINCIPAIS datas
comemorativas desse primeiro trimestre de 2023 já se foram. Foi-se o Primeiro
de Janeiro, Carnaval, Páscoa e, para alguns, seus próprios aniversários.
Ficou para trás o 31 de março, porque,
finalmente, após quase 60 anos, foi preciso um choque institucional para que se
descobrisse que não há nada a comemorar em 31 de março. Pelo contrário, há
muito a lamentar.
Sem
querer entrar no mérito das preferências políticas, há que se considerar que o
acontecimento de 31 de março de 1964, embora, para alguns, tenha trazido uma ou
outra vantagem, sob o ponto de vista humanitário deixou profundos sulcos na
sociedade brasileira, que até há pouco tempo ainda tinha quem entendesse por
comemorar. Mas, modestamente, no mundo atual, excetuando alguns países que inda
raciocinam sob as luzes do Século XX, as décadas de cinquenta a oitenta daquele
Século não nos deixaram nada para lembrar e comemorar.
Os tantos que transpuseram aquele período e sofreram suas
consequências foram vítimas de seus próprios comportamentos e maneira de
pensar, pois entendiam que é possível viver num País onde todos poderiam
desfrutar de seu trabalho e de suas riquezas. Em contraposição, o grupo de que
instalou no poder pensava que o progresso seria alcançado pela exploração e não
pelo trabalho: exploração da natureza em seu sentido mais amplo e do trabalho
alheio.
Não há dúvidas que naquele nefasto período que muitos ainda
acham ter sido virtuoso, o Brasil progrediu. Mas hoje há que se perguntar:
progrediu como? Por que progrediu? A custa de quê e de quem progrediu?
Para início é preciso considerar que dos anos 1950 até nossos
dias , o mundo todo progrediu, evoluiu, modernizou-se e continua assim. Não há
registros históricos indicando que o progresso foi alcançado através do
socialismo, do capitalismo, da religião ou da ideologia. O progresso foi
alcançado através do desenvolvimento cultural e do trabalho incansável de
todos.
Em nosso Brasil não foi diferente: não foram os militares que
“promoveram” o desenvolvimento. Eles apenas administraram as possibilidades que,
à época, se lhes apresentaram, considerando principalmente a nova ordem mundial
pós-segunda guerra, quando se abriu a possibilidade de acessar capitais para
investimento, oriundos de emissões de moeda para financiar o progresso.
Não foi o capitalismo de direita ou de centro que promoveu o
progresso. Se assim fora, os países que continuam comunistas até hoje, tipo
China, continuariam na mais absoluta pobreza. A propósito, a riqueza da China
deve ser atribuída ao trabalho de sua população, assim como a Índia com seus
mais de um bilhão de habitantes. Por aqui, infelizmente, ainda se pensa em
dizimar os povos.
Aprofundando a discussão sobre o desenvolvimento brasileiro,
necessário referir as obras de Luiz
Carlos Bresser Pereira, sobretudo “Crescimento e Desenvolvimento Econômico,
onde enfatiza: A medida do desenvolvimento econômico é a do aumento da renda
por habitante, não a da acumulação de riqueza, e prossegue: “O
desenvolvimento economico” visa atender diretamente um objetivo político
fundamental das sociedades modernas – o bem estar – e, apenas indiretamente os
quatro outros grandes objetivos que essas sociedades buscam – a segurança, a
liberdade, a justiça social e a proteção do ambiente”.
Para
muitos economistas a identificação do desenvolvimento econômico com crescimento
seria ideológica: ela ocultaria o fato de o desenvolvimento econômico implicar
melhor distribuição de renda enquanto que crescimento, não.
Celso
Furtado (2004), afirma que o “crescimento econômico, tal como o conhecemos, vem
se fundando na preservação de privilégios das elites que satisfazem seu afã de
modernização; já o desenvolvimento se caracteriza por seu projeto social”.
Nesse caso, desenvolvimento econômico implicaria distribuição.
É
impossível não ser simpático a essas proposições. Elas supõem que o aumento dos
padrões médios de vida, que sempre ocorre com o aumento da produtividade ou o
‘desenvolvimento econômico’, deva ser acompanhado pela consecução de outros
objetivos políticos: pelo ‘desenvolvimento portanto,
mais justa do produto social; pelo ‘desenvolvimento político’ ou por mais
liberdade política, por mais democracia; e pelo ‘desenvolvimento sustentável ou
proteção mais efetiva do ambiente natural’.
Assim,
suscintamente pode-se inferir que ‘crescimento econômico’ ou ‘desenvolvimento’
tem o mesmo sentido de “progresso”, vamos assim dizer, com a ressalva dos
resultados dele decorrentes cujas opções são: 1) a distribuição da riqueza de
forme coerente e planejada visando o bem-estar da sociedade e o atendimento das
suas necessidades, ou, 2) a acumulação desenfreada da riqueza por apenas uma
parcela da população, deixando a restante entregue a seu próprio destino. Nesse
caso, os capitalistas terão a opção de investir sua riqueza em especulação
financeira para aumentar seu volume ou alternativamente, em Bitcoins com a Lifetycom.
Até
a próxima.
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