segunda-feira, 29 de junho de 2015

FIM DA PICADA

FIM DA PICADA
O parlamento municipal, em associação com a administração, protagonizou um evento inacreditável. Juntos conseguiram embaralhar os vereadores de tal forma que ninguém mais sabe de que lado está. A sugestão não poderia ser outra senão a encomenda urgente de algumas bússolas para achar o rumo a ser seguido daqui para frente.
Nos últimos tempos, tanto se falou no estacionamento rotativo, que a cabeça dos nossos ilustres políticos, com algumas raras e honrosas exceções, gira e aponta para uma ou outra direção qual biruta de aeroporto.
A administração municipal colabora para isso. Mandou um projeto que foi substituído por outro alguns dias depois. A colenda o modificou e aprovou. Incontinenti, o executivo vetou tudo. A colenda, em represália, derrubou o veto, obrigando o executivo a implantar o tal rotativo.
Isso não é tudo. Algumas cabeças iluminadas sugeriram jogar a nova lei no lixo e votar outra, de comum acordo. Muito bem, pois se é para pagar mico, que se pague um bem grande de uma vez.
Alguns vereadores que votaram a favor do estacionamento, votaram a favor do veto e outros que votaram contra o estacionamento, votaram também contra o veto, que justamente é para o povo não entender nada e engolir o sapo.
O prefeito que vetou o projeto viu seus vereadores derrubarem o veto, coisa inusitada no contexto de fidelidade partidária exigido pelo PMDB. Assim, o PMDB traiu seu próprio prefeito. Deve já ter-se acostumado, pois há menos de seis meses sofreu um revés semelhante. Naquela oportunidade, a reação foi bem outra, assim como foi em 2002, quando o vereador Vanirto Conrad quis ser presidente da colenda. A reação foi imediata e violenta. O que está acontecendo com o PMDB? Está perdendo a noção do ridículo?
Para o povo menos atento, o que pode esperar de um partido que aceita essas incongruências em nome de interesses pessoais? O que pode o povo esperar de um partido desses, que manda no Governo Federal, na Câmara e no Senado? O que pode esperar o povo Migueloestino de um partido que comanda seu futuro, nega o que escreve, deleta o que fala e manda seus soldados atirarem contra sua própria trincheira? Isso nem Freud explica.
AUSTERIDADE COM GANHOS ALHEIOSpor Juremir Machado da Silva
       Alguém levaria a sério um defensor da abstinência sexual que passasse as suas noites num bordel?
       A imagem é grotesca. Às vezes, é preciso ser brutal como um leão numa garagem. Metáforas pálidas levam a conclusões beges. Um político que ganha, somando suas diferentes fontes de renda, mais de cem mil reais por mês não pode ser o porta-voz da necessidade de austeridade. Só se fala na importância de cortar gastos, desde que eles não atinjam quem os propõe. O Brasil está sob o controle de uma elite vampira que suga o sangue da plebe de canudinho. Sangue com uísque é de lamber os beiços. A França já passou por isso. Marie-NoëlleLienemann até publicou um livro intitulado Os canibais do Estado. Basta procurar na internet. Tudo se encontra na rede. Nada mais ultrapassado do que pedir indicação de hotel em Paris. Quem canibaliza mais, a plebe ou os camarotes?
       A turma dos camarotes, por ser numericamente menor, acha que não tem impacto sobre o buraco da bala. Manda a conta para o térreo, que fica de cara para o muro e quase sem raios de sol. O pessoal da cobertura não tem constrangimentos. Considera a fórmula 85/95, que joga o fator previdenciário para escanteio sem lhe dar cartão vermelho, muito perigosa. Talvez essa escala deva mesmo ser móvel de acordo com o aumento da expectativa média de vida. A receita dominante é simples e clara: a minoria se elege, administra e ganha bem. A maioria vota, é administrada e paga a conta dos que tomam as decisões sempre em nome da responsabilidade, do bom senso e do compromisso com o futuro. Conversa para empregado dormir em pé.
       Tudo se joga agora. A presidente da República quer vetar a fórmula 85/95. Para isso, precisa mandar ao Congresso Nacional uma proposta alternativa. Qualquer que seja ela, genial ou medíocre, será pior para os trabalhadores do que a 85/95. Especialistas minimamente sinceros sabem que a Previdência não tem rombo. É o mito dos séculos. O problema é que a grana vai parar em outros lugares para cobrir gastos que possivelmente nem deveriam existir. Wladimir Novaes Martinez, criador da fórmula 85/95, ensina o caminho das pedras: “A fórmula 85/95 representa mais do que uma simples soma do tempo de serviço com a idade. Reconhece a distinção legal da mulher, enquanto assim pensar o legislador. Da mesma forma a atividade insalubre, determinante da aposentadoria especial. E, é claro, a situação do professor, que, constitucionalmente, aposenta-se cinco antes dos demais segurados”. É justa e cristalina. Mas não pode ser eterna.
       O que faz um leão na garagem? Não sei quem o colocou lá. Mas arranha o carro novinho dos canibais da República. O advogado da Associação Brasileira de Benefício aos Aposentados, Pensionistas e Servidores Públicos (Abasp), Caio Ferrer, mostra as garras sobre o rombo da Previdência: “Trata-se de um mito divulgado pela imprensa para consolar os aposentados”. O economista do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp, Eduardo Fagnani, completa: “Se somarmos os últimos anos todos esses fatores [de contribuição], vai dar um resultado superavitário”. 85/95 já!

       Legislativo, executivo e judiciário adoram cortar gastos. Dos outros.

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