805 – O PREÇO DAS VIDAS – 17.06.2022
1 – O jornalista Jeferson
Miola, citando livro do agora “escriba”
general Eduardo Vilas Boas, relata um fato curioso que leva a concluir o
descaso e falta de humanidade em relação aos desaparecimentos do indigenista
Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. Diz Miola que na região
amazônica, o fator tempo é crucial para encontrar pessoas desaparecidas pois
pode significar a diferença entre a vida e a morte.
Embora isto, o Exército agiu com descaso.
Diante da negligência do governo, três
dias após o desparecimento dos dois profissionais a Justiça Federal determinou que
a União efetive imediatamente obrigação de fazer no sentido de viabilizar o uso
de helicópteros, embarcações e equipes de buscas para localizar Bruno Pereira e
Dom Phillips”.
O
Exército só se mobilizou de fato, portanto, depois que a justiça o obrigou, por
meio de ordem judicial concedida ante o pedido da União dos Povos Indígenas do
Vale do Javari formulado em conjunto com a Defensoria Pública e o MPF.
É
escandalosa e cínica a alegação do Comando da Amazônia. Para desmascarar este
cinismo, basta se socorrer do próprio general Eduardo Villas Bôas, que fez uma
revelação surpreendente no livro “Conversas com o Comandante”,
organizado pelo professor Celso Castro [2021].
para ilustrar com orgulho e regozijo o espírito da camaradagem
corporativa e nada republicana que reina na chamada “família militar”, Villas
Bôas relata episódio em que o comandante do 4º Batalhão de Aviação do Exército,
subordinado ao CMA, usou um helicóptero do Exército para levar uma revista Playboy a
ele, o indefectível Villas Bôas, na selva amazônica: Villas Bôas assim relata,
em tom de galhofa, na página 106 do livro:
Já fiz referência ao coronel Pavanelo, comandante do 4º Batalhão
de Aviação do Exército. Lá pelo 20º dia de internação, ouvimos um ronco de
helicóptero. Depois de certificar-me de que não havia nenhum apoio aéreo
previsto, aproximei-me do local de aterragem. Quando o Pantera pousou, o
mecânico de bordo correu em minha direção e entregou-me um envelope pardo.
Aguardei a decolagem para, então, abrir o que imaginei ser um documento. Era
uma revista Playboy”.
Para satisfazer o fetiche sexual o Exército não precisou do tal
“acionamento por parte do Escalão Superior” que usou como álibi para retardar a
missão humanitária de urgência, diminuindo as chances de Bruno Pereira e Dom
Philips serem encontrados ainda com vida.
2-
Matéria interessante publicada no BARRADOCORDA.COM – O seu portal de
notícias do jornalista Ribamar Guimarães (O Bom Maranhense), coloca em xeque a
atuação da FUNAI na Amazônia. Baseado nas declarações de um ex-colega de Bruno
Araújo Pereira, que junto com Dom Phillips desapareceu na Floresta e até o
momento em que escrevo não foram encontrados.
O Portal https://amazoniareal.com.br/ uma
agência de jornalismo independente e investigativo “Amazônia Real é uma
organização sem fins lucrativos dedicada a informar o que se passa sob as
frondosas árvores da Floresta Amazônica. Neste “affaire” foi buscar contato com
o ex-colega de Bruno Araújo Pereira para uma conversa franca sobre a realidade
da Amazônia Real.
Com medo de
ser assassinado, o indigenista “Exilado” (omito o nome por questão de
segurança” colega de Bruno Araújo Pereira vive exilado na Europa desde 2019.
Ele tem medo de morrer. Ele é um dos servidores da Funai perseguidos por fazer
o seu trabalho de fiscalização. Em 19 de novembro de 2020 foi exonerado pelo
presidente da Funai, Marcelo Xavier.
Amazônia Real – Como você
conheceu? Conheci o Bruno quando fizemos treinamento juntos em
Brasília e também estive em algumas missões com ele. Estou destruído porque o
que aconteceu com o Bruno é o que aconteceu comigo: eu pedi asilo depois que
protocolei um dossiê, na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos
Deputados, denunciando milícias, madeireiras e traficantes no Maranhão. Eu
sempre percebi que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) não
ligavam para os índios, essa é a verdade. Eu sabia que se protocolasse o dossiê
na Polícia Federal ou na Procuradoria da República, eles iriam vazar na mesma
hora, não ia dar tempo nem de eu correr.
Amazônia Real – Você buscou
asilo para não morrer? Não sou covarde. Eu saí porque essa bola
estava cantada. Não sei por que o Bruno foi entregar esse relatório para o MPF
e o DPF. E os caras mandaram o “Pelado”, o “Churrasco” e os outros bandidos lá.
Amazônia Real – Você foi
ameaçado muitas vezes? Na Funai, no nosso cargo, quando a gente
faz a repressão ao crime ambiental e à invasão, a ameaça é constante. Mas a
gente nunca teve medo de ameaça. Nunca teve. Não era só um emprego para mim. Na
Funai tem uma tradição: para os mais combativos, sempre houve a tradição de se
fazer uma rotatividade para preservar. Ameaça sempre teve. No Mato Grosso do
Sul, em Marabá, me ameaçaram dentro da Assembleia Legislativa.
Amazônia Real – Ainda acredita
que vão tentar matar você? Desde o Bruno, eu não durmo direito.
É uma culpa muito grande. O que pode ter matado Bruno foi esse relatório. O
indigenista recebe ameaças frequentemente. O fato novo é que agora estão
cumprindo. Um investigador carioca botou uma pistola na minha cabeça. Acho que
ele está envolvido na morte do Paulino, guardião da Floresta morto na Terra
Indígena Arariboia. Depois que mataram o Paulino, Vi que seria o próximo.
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