quarta-feira, 22 de junho de 2022

O PREÇO DAS VIDAS – 17.06.2022

 805 – O PREÇO DAS VIDAS – 17.06.2022

 

1 – O jornalista Jeferson Miola, citando livro do agora “escriba” general Eduardo Vilas Boas, relata um fato curioso que leva a concluir o descaso e falta de humanidade em relação aos desaparecimentos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. Diz Miola que na região amazônica, o fator tempo é crucial para encontrar pessoas desaparecidas pois pode significar a diferença entre a vida e a morte.

Embora isto, o Exército agiu com descaso. Após ser cobrado a empregar equipamentos, soldados e helicópteros na busca dos dois desaparecidos, o Comando Militar da Amazônia soltou uma nota infame e burocrática onde diz que as ações seriam iniciadas mediante acionamento por parte do “Escalão Superior”.

        Diante da negligência do governo, três dias após o desparecimento dos dois profissionais a Justiça Federal determinou que a União efetive imediatamente obrigação de fazer no sentido de viabilizar o uso de helicópteros, embarcações e equipes de buscas para localizar Bruno Pereira e Dom Phillips”.

O Exército só se mobilizou de fato, portanto, depois que a justiça o obrigou, por meio de ordem judicial concedida ante o pedido da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari formulado em conjunto com a Defensoria Pública e o MPF.

É escandalosa e cínica a alegação do Comando da Amazônia. Para desmascarar este cinismo, basta se socorrer do próprio general Eduardo Villas Bôas, que fez uma revelação surpreendente no livro “Conversas com o Comandante”, organizado pelo professor Celso Castro [2021].

para ilustrar com orgulho e regozijo o espírito da camaradagem corporativa e nada republicana que reina na chamada “família militar”, Villas Bôas relata episódio em que o comandante do 4º Batalhão de Aviação do Exército, subordinado ao CMA, usou um helicóptero do Exército para levar uma revista Playboy a ele, o indefectível Villas Bôas, na selva amazônica: Villas Bôas assim relata, em tom de galhofa, na página 106 do livro:

Já fiz referência ao coronel Pavanelo, comandante do 4º Batalhão de Aviação do Exército. Lá pelo 20º dia de internação, ouvimos um ronco de helicóptero. Depois de certificar-me de que não havia nenhum apoio aéreo previsto, aproximei-me do local de aterragem. Quando o Pantera pousou, o mecânico de bordo correu em minha direção e entregou-me um envelope pardo. Aguardei a decolagem para, então, abrir o que imaginei ser um documento. Era uma revista Playboy”.

Para satisfazer o fetiche sexual o Exército não precisou do tal “acionamento por parte do Escalão Superior” que usou como álibi para retardar a missão humanitária de urgência, diminuindo as chances de Bruno Pereira e Dom Philips serem encontrados ainda com vida.

 

        2- Matéria interessante publicada no BARRADOCORDA.COM – O seu portal de notícias do jornalista Ribamar Guimarães (O Bom Maranhense), coloca em xeque a atuação da FUNAI na Amazônia. Baseado nas declarações de um ex-colega de Bruno Araújo Pereira, que junto com Dom Phillips desapareceu na Floresta e até o momento em que escrevo não foram encontrados.

O Portal https://amazoniareal.com.br/ uma agência de jornalismo independente e investigativo “Amazônia Real é uma organização sem fins lucrativos dedicada a informar o que se passa sob as frondosas árvores da Floresta Amazônica. Neste “affaire” foi buscar contato com o ex-colega de Bruno Araújo Pereira para uma conversa franca sobre a realidade da Amazônia Real.

        Com medo de ser assassinado, o indigenista “Exilado” (omito o nome por questão de segurança” colega de Bruno Araújo Pereira vive exilado na Europa desde 2019. Ele tem medo de morrer. Ele é um dos servidores da Funai perseguidos por fazer o seu trabalho de fiscalização. Em 19 de novembro de 2020 foi exonerado pelo presidente da Funai, Marcelo Xavier.

        Amazônia Real – Como você conheceu? Conheci o Bruno quando fizemos treinamento juntos em Brasília e também estive em algumas missões com ele. Estou destruído porque o que aconteceu com o Bruno é o que aconteceu comigo: eu pedi asilo depois que protocolei um dossiê, na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, denunciando milícias, madeireiras e traficantes no Maranhão. Eu sempre percebi que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) não ligavam para os índios, essa é a verdade. Eu sabia que se protocolasse o dossiê na Polícia Federal ou na Procuradoria da República, eles iriam vazar na mesma hora, não ia dar tempo nem de eu correr.

        Amazônia Real – Você buscou asilo para não morrer? Não sou covarde. Eu saí porque essa bola estava cantada. Não sei por que o Bruno foi entregar esse relatório para o MPF e o DPF. E os caras mandaram o “Pelado”, o “Churrasco” e os outros bandidos lá.

        Amazônia Real – Você foi ameaçado muitas vezes? Na Funai, no nosso cargo, quando a gente faz a repressão ao crime ambiental e à invasão, a ameaça é constante. Mas a gente nunca teve medo de ameaça. Nunca teve. Não era só um emprego para mim. Na Funai tem uma tradição: para os mais combativos, sempre houve a tradição de se fazer uma rotatividade para preservar. Ameaça sempre teve. No Mato Grosso do Sul, em Marabá, me ameaçaram dentro da Assembleia Legislativa.

        Amazônia Real – Ainda acredita que vão tentar matar você? Desde o Bruno, eu não durmo direito. É uma culpa muito grande. O que pode ter matado Bruno foi esse relatório. O indigenista recebe ameaças frequentemente. O fato novo é que agora estão cumprindo. Um investigador carioca botou uma pistola na minha cabeça. Acho que ele está envolvido na morte do Paulino, guardião da Floresta morto na Terra Indígena Arariboia. Depois que mataram o Paulino, Vi que seria o próximo.

 

 

 

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