801 – PARADOXOS ORTODOXOS – 06.05.2022
Tento
seguir a nova proposta para esta coluna mas confesso ser difícil
cumprir à risca. Parte por ser difícil mudar o estilo depois de 40 anos escrevendo
para jornais e blog e também por estarmos sobre nova realidade política,
institucional e governamental. Parece que tudo mudou.
No texto de hoje, dedico comentários sobre os
paradoxos entre o que se fala e o que se faz, e seus respectivos “ortodoxos”,
que são aqueles que se acham donos da verdade. Em relação à religião, os que
professam a ortodoxia seguem suas igrejas à moda antiga, de mais de dois mil
anos, mas com fundamentos ortodoxos
Para
começar, estamos diante de um paradoxo patrocinado pela corrente ortodoxa.
Está se tornando público um novo grande esquema de corrupção levantado pelos
órgãos de contas e promotorias. Fosse só isso não seria motivo de comentários
pois, afinal, a corrupção grassa neste país desde o descobrimento. O problema é
mais profundo porque a descoberta se deu em 2018, justamente na instituição
onde o atual presidente a tem como formadora e, pior, prega aos quatro ventos
que no seu governo não existe corrupção.
O caminho desta corrupção passa pelos órgãos
vitais do exército brasileiro e envolve militares, os indignos representantes
de comportamentos ortodoxos que continuam achando serem eles os únicos certos
desde seu comandante em chefe.
Gastos
milionários de kits de robótica de uma empresa cujo dono
tem ligação com o presidente da câmara dos deputados, entraram na mira de
várias investigações. As compras foram feitas com recursos do Ministério da
Educação que acelerou os repasses. Os tais kits são especiais para montagem de
um robô, com peças e instruções para construí-lo com movimentação autônoma.
Estes kits são para construção de brinquedos ou para desenvolvimento de
projetos de robótica educacional.
A pergunta que não quer calar, e aí está o
paradoxo: o que a câmara dos deputados pretende fazer com isto? Montar
brinquedos no plenário para premiar os mais ágeis? Se é para premiar os
especialistas em “mão leve”, terão que premiar quase todos. O caso tem sido apurado por tribunais
de contas e até uma CPI deve ser instalada. Já Jair Bolsonaro tem se
esforçado para minimizar o caso.
Após o golpe de Bolsonaro e seus asseclas, o Real
perdeu mais de 30% do seu valor de compra. Com inflação mais alta desde a
década de 90, o Brasil tem enfrentado um crescimento inflacionário intenso nos
últimos cinco anos. Após a entrada do governo Bolsonaro, a moeda nacional
perdeu mais de 30% do seu valor de compra. Segundo o IPCA do IBGE, no Brasil a
inflação saltou de 10,06% em 2021 e já nos 12 meses até março deste ano, chegou
a 11,30%. O tema já foi abordado na coluna anterior
O
que mais chama à atenção é a tranquilidade com que o governo e seus assistentes
dizem, que está tudo bem e o Brasil vai crescer. Para manter o paradoxo, o sem
noção intensifica a distribuição de favores financeiros a seus asseclas, numa
tentativa desesperada para ganhar as eleições. Esta estratégia é prova
inconteste de sua ortodoxia que deixará o Brasil quebrado se a desgraça se
abater sobre as urnas.
Com
o ex-presidente Lula na capa da revista Time, internautas tiraram sarro
das montagens feitas por bolsonaristas desde 2018 mostrando o Bolsonaro na capa
da publicação norte-americana, uma das mais populares do mundo.
Em
novembro de 2018, pouco depois de ele vencer a eleição, circulou nas redes
sociais uma imagem fake mostrando Bolsonaro como “Personalidade do Ano” A
montagem tosca logo foi desmentida por agências de verificação.
Em
2021, Bolsonaro venceu a enquete popular que escolhia a Personalidade do Ano na
publicação, porém a decisão final era dos editores da revista, que não deram o
prêmio ao presidente. Ele havia ficado empolgado com a possibilidade. “Será que
vai para mim aquele prêmio ou não? ”, questionou aos seus eleitores na época.
Tudo que ele ganhou, porém, foi mais uma capa fake, elaborada com um pouco mais
de rebuscamento pelos bolsonaristas.
Na
matéria da revista sobre a premiação, Bolsonaro foi classificado como “um líder
polêmico”, que enfrenta uma desaprovação crescente sobre o modo como lida com a
economia e que enfrentou críticas generalizadas por minimizar a gravidade da
Covid-19 e exibir ceticismo em relação à vacina.
Já em
fevereiro deste ano, mais uma capa fake, desta vez compartilhada pelo
ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. Ele compartilhou outra montagem
tosca que mostrava a foto de Bolsonaro com o título “Prêmio Nobel da Paz de
2022”. “Parabéns, presidente”, disse ele na postagem.
Após o
governo russo anunciar a retirada de parte das tropas em torno da Ucrânia,
bolsonaristas passaram a atribuir o movimento à visita do presidente. As
montagens disseminadas por Salles circularam amplamente nas redes e em grupos
de apoiadores do presidente. É o fim Martinho! Nem pedindo auxílio a takafen!
Até a
próxima.
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