À ESPERA DE UM MILAGRE
Não se conhece
com exatidão o ponto de partida da organização, em grupos homogêneos, de países, para a solução de problemas
comuns. Sabe-se com precisão que a ONU, por exemplo, surgiu com o objetivo de
reconstruir o que a guerra havia destruído e que a ALALC (Associação de Livre
Comércio das Américas) foi concebida para estabelecer áreas livres de gravames, o que, de certa forma, deu
origem ao MERCOSUL.
A história da
CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), hoje organismo das Nações
Unidas com sede em Santiago, é um pouco diferente, visto ter surgido no início
do Séc. XX, para traçar os rumos do desenvolvimento Latino-Americano.
Fiel aos seus
objetivos, a CEPAL determinou que o
desenvolvimento da América Latina, inclusive do Brasil, seria alcançado através
da industrialização de bens de consumo duráveis. O diagnóstico da situação da
época e o conseqüente prognóstico deram-se logo após a consolidação do sistema Republicano, mais precisamente
no início do Século XX.
Tal vaticínio também foi influenciado, em
parte, pelo fim do ciclo do café e pelos sinais de exaustão da importância
econômica das demais mercadorias exportadas, tais como borracha, açúcar, etc.
A queda
vertiginosa nos preços e nas exportações de café, o crack da bolsa e a conseqënte depressão
econômica de 1929, proporcionaram o estabelecimento de governos totalitários,
entre os quais a era Vargas,
considerando-se seus dois governos.
No primeiro
governo (1930-1945), Vargas, que havia chegado ao poder pelo voto popular
derrotando Washington Luiz, lançou as bases do desenvolvimento brasileiro
recomendado pela CEPAL, implantando a Companhia Siderúrgica Nacional, a
Companhia Vale do Rio Doce e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco.
Preparou também o país para assumir o modelo de desenvolvimento preconizado
pela CEPAL, criando a Justiça do Trabalho e a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT).
No seu segundo
governo (1951-1954) seguindo sua política econômica desenvolvimentista e
nacionalista, Vargas encetou a campanha O
Petróleo é Nosso, criando daí a Petrobrás, e as demais Brás até hoje conhecidas.
Em seu primeiro
governo, para justificar os investimentos na infra-estrutura que serviria de
base para o desenvolvimento, Vargas proferiu algumas palavras que soam aos
ouvidos do povo brasileiro até hoje. Entre outras coisas, Vargas previu: “se o Brasil
continuar exportando matérias primas, continuará sendo sub-desenvolvido”.
Os tempos
passaram, foi-se o Século XX. As matérias primas de 1930 já são commodities. Os países sub-desenvolvidos
hoje são emergentes; A pobreza passou
a chamar-se distribuição injusta da renda
e o abandono do campo passou a ser migração.
A política nacionalista de Vargas foi esquecida em nome da globalização. O fluxo de capitais,
outrora promotores do desenvolvimento, promovem a injustiça e a especulação, deixando atrás de si um rastro de
corrosão da já minguada Renda Per Capita.
Porém, as
palavras de Vargas continuam presentes: exportando
matérias primas não se alcança o desenvolvimento! Ou ainda: não há melhoria na renda quando a economia baseia-se na
produção primária.
A propósito,
recentemente, o IBGE publicou o ranking
do Produto Interno Bruto per cápita
dos municípios brasileiros. Os 100 primeiros colocados são municípios
industrializados, cuja economia, via-de-regra,
baseia-se na matriz energética. Por seu turno, os últimos colocados, aqueles
que tem menor participação no PIB nacional são os essencialmente agrícolas.
Especificamente
nos municípios do Extremo Oeste Catarinense, não bastasse pertencerem à Meso
Região Grande Fronteira do Mercosul, considerada deprimida economicamente pelo PNUD
(Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o PIB per capita situa-se entre os piores do
país, perdendo, evidentemente, para Tocantins, Maranhão e alguns Estados do
Nordeste. No Sul, seguramente a Região mais desenvolvida do Brasil, ocupam as
últimas posições.
O estado de
desigualdade no qual se encontram as Regiões menos desenvolvidas não pode ser
debitado a outros que não sejam os governos. A ênfase dada a modelos
retrógrados de desenvolvimento, a falta de planejamento para a transposição do
ciclo extrativista e, fundamentalmente, a falta de incentivos para a exploração
do potencial econômico da cadeia produtiva agrícola, agregando valor aos
produtos primários, deixarem os municípios agrícolas na condição de
subdesenvolvidos.
Nesta condição,
acumulam-se os problemas de infra-estrutura, mostrando deficiências energéticas,
de comunicações (especialmente estradas), tecnológicas, além da já constante
falta de água, resultado de políticas de desenvolvimento extrativistas ou
altamente poluidoras. Alie-se a isto a falta de investimentos em saúde e
educação, obrigando as populações a buscar tais serviços em outros centros.
Este quadro de
atraso vem esvaziando a Região, obrigando os jovens a buscar oportunidades fora
de seu habitat, esvaindo ainda mais
as potencialidades que lhe permitiriam sair deste marasmo em direção ao
desenvolvimento.
Enquanto isso,
onde as palavras de Vargas encontraram ressonância e houve visão de futuro,
segundo o IBGE, mesmo municípios pequenos aparecem no topo da tabela com renda per capita próxima dos R$25.000,00,
quando nos municípios agrícolas não passa de R$10.000,00.
Não bastassem os erros cometidos ao
longo dos tempos, considerando-se o processo de industrialização tardia, característica brasileira, e
todas as adversidades decorrentes da mal formação de um mercado consumidor
interno com capacidade para absorver a produção, os governos locais persistem
no erro ao oferecer incentivos fiscais e econômicos a empresas e atividades com
baixo potencial gerador de empregos e renda e ao insistirem com políticas
equivocadas de fixação do homem no campo mediante oferecimento de incentivos
inóquos e momentâneos.
Os fundamentos para o
desenvolvimento, que são os investimentos em infra-estrutura (água, energia,
comunicações, tecnologia), ficam relegados a segundo plano, quiçá à espera de
algum novo milagre.
As iniciativas de
formação de grupos de agricultores, pequenas cooperativas de produção,
industrialização e crédito, além da implantação de tecnologias apropriadas e
adequadas às características de cada atividade, aliadas à disponibilização no
mercado de profissionais com formação em agronegócios, embora a má vontade e a
falta de conhecimento histórico dos governos locais que insistem na troca de
favores, são sinais de que nem tudo está perdido e que a sociedade organizada
pode suprir as falhas do próprio governo que se mostra ineficaz
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