sexta-feira, 23 de outubro de 2015

ESPERA



À ESPERA DE UM MILAGRE



       Não se conhece com exatidão o ponto de partida da organização, em grupos homogêneos,  de países, para a solução de problemas comuns. Sabe-se com precisão que a ONU, por exemplo, surgiu com o objetivo de reconstruir o que a guerra havia destruído e que a ALALC (Associação de Livre Comércio das Américas) foi concebida para estabelecer áreas livres de gravames, o que, de certa forma, deu origem ao MERCOSUL.
       A história da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), hoje organismo das Nações Unidas com sede em Santiago, é um pouco diferente, visto ter surgido no início do Séc. XX, para traçar os rumos do desenvolvimento Latino-Americano.
       Fiel aos seus objetivos, a CEPAL determinou que o desenvolvimento da América Latina, inclusive do Brasil, seria alcançado através da industrialização de bens de consumo duráveis. O diagnóstico da situação da época e o conseqüente prognóstico deram-se logo após a consolidação do sistema Republicano, mais precisamente no início do Século XX.
       Tal vaticínio também foi influenciado, em parte, pelo fim do ciclo do café e pelos sinais de exaustão da importância econômica das demais mercadorias exportadas, tais como borracha, açúcar, etc.
       A queda vertiginosa nos preços e nas exportações de café, o crack da bolsa e a conseqënte depressão econômica de 1929, proporcionaram o estabelecimento de governos totalitários, entre os quais a era Vargas, considerando-se seus dois governos.
       No primeiro governo (1930-1945), Vargas, que havia chegado ao poder pelo voto popular derrotando Washington Luiz, lançou as bases do desenvolvimento brasileiro recomendado pela CEPAL, implantando a Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Vale do Rio Doce e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco. Preparou também o país para assumir o modelo de desenvolvimento preconizado pela CEPAL, criando a Justiça do Trabalho e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
       No seu segundo governo (1951-1954) seguindo sua política econômica desenvolvimentista e nacionalista, Vargas encetou a campanha O Petróleo é Nosso, criando daí a Petrobrás, e as demais Brás até hoje conhecidas.
       Em seu primeiro governo, para justificar os investimentos na infra-estrutura que serviria de base para o desenvolvimento, Vargas proferiu algumas palavras que soam aos ouvidos do povo brasileiro até hoje. Entre outras coisas, Vargas previu: “se o Brasil continuar exportando matérias primas, continuará sendo sub-desenvolvido”.
       Os tempos passaram, foi-se o Século XX. As matérias primas de 1930 já são commodities. Os países sub-desenvolvidos hoje são emergentes; A pobreza passou a chamar-se distribuição injusta da renda e o abandono do campo passou a ser migração. A política nacionalista de Vargas foi esquecida em nome da globalização. O fluxo de capitais, outrora promotores do desenvolvimento, promovem a injustiça e a especulação, deixando atrás de si um rastro de corrosão da já minguada Renda Per Capita.
       Porém, as palavras de Vargas continuam presentes: exportando matérias primas não se alcança o desenvolvimento! Ou ainda: não há melhoria na renda quando a economia baseia-se na produção primária.
       A propósito, recentemente, o IBGE publicou o ranking do Produto Interno Bruto per cápita dos municípios brasileiros. Os 100 primeiros colocados são municípios industrializados, cuja economia, via-de-regra, baseia-se na matriz energética. Por seu turno, os últimos colocados, aqueles que tem menor participação no PIB nacional são os essencialmente agrícolas.
       Especificamente nos municípios do Extremo Oeste Catarinense, não bastasse pertencerem à Meso Região Grande Fronteira do Mercosul, considerada deprimida economicamente pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o PIB per capita situa-se entre os piores do país, perdendo, evidentemente, para Tocantins, Maranhão e alguns Estados do Nordeste. No Sul, seguramente a Região mais desenvolvida do Brasil, ocupam as últimas posições.
       O estado de desigualdade no qual se encontram as Regiões menos desenvolvidas não pode ser debitado a outros que não sejam os governos. A ênfase dada a modelos retrógrados de desenvolvimento, a falta de planejamento para a transposição do ciclo extrativista e, fundamentalmente, a falta de incentivos para a exploração do potencial econômico da cadeia produtiva agrícola, agregando valor aos produtos primários, deixarem os municípios agrícolas na condição de subdesenvolvidos. 
       Nesta condição, acumulam-se os problemas de infra-estrutura, mostrando deficiências energéticas, de comunicações (especialmente estradas), tecnológicas, além da já constante falta de água, resultado de políticas de desenvolvimento extrativistas ou altamente poluidoras. Alie-se a isto a falta de investimentos em saúde e educação, obrigando as populações a buscar tais serviços em outros centros.
       Este quadro de atraso vem esvaziando a Região, obrigando os jovens a buscar oportunidades fora de seu habitat, esvaindo ainda mais as potencialidades que lhe permitiriam sair deste marasmo em direção ao desenvolvimento.
       Enquanto isso, onde as palavras de Vargas encontraram ressonância e houve visão de futuro, segundo o IBGE, mesmo municípios pequenos aparecem no topo da tabela com renda per capita próxima dos R$25.000,00, quando nos municípios agrícolas não passa de R$10.000,00.
Não bastassem os erros cometidos ao longo dos tempos, considerando-se o processo de industrialização tardia, característica brasileira, e todas as adversidades decorrentes da mal formação de um mercado consumidor interno com capacidade para absorver a produção, os governos locais persistem no erro ao oferecer incentivos fiscais e econômicos a empresas e atividades com baixo potencial gerador de empregos e renda e ao insistirem com políticas equivocadas de fixação do homem no campo mediante oferecimento de incentivos inóquos e momentâneos.
Os fundamentos para o desenvolvimento, que são os investimentos em infra-estrutura (água, energia, comunicações, tecnologia), ficam relegados a segundo plano, quiçá à espera de algum novo milagre.
As iniciativas de formação de grupos de agricultores, pequenas cooperativas de produção, industrialização e crédito, além da implantação de tecnologias apropriadas e adequadas às características de cada atividade, aliadas à disponibilização no mercado de profissionais com formação em agronegócios, embora a má vontade e a falta de conhecimento histórico dos governos locais que insistem na troca de favores, são sinais de que nem tudo está perdido e que a sociedade organizada pode suprir as falhas do próprio governo que se mostra ineficaz

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